Será que Bolsonaro vai abrir mão também do AeroLula?

Diante das ameaças de grandes multinacionais de suspender a compra de produtos brasileiros, se a Amazônia continuar a ser devastada, Bolsonaro brinca de boicote à caneta francesa BIC

Bolsonaro desembarca do avião presidencial em Dallas - Foto Marcos Corrêa/PR

Durante a transição e nos primeiros meses de governo, o general Augusto Heleno desempenhou, também, o papel de tradutor das declarações mais inconvenientes de Jair Bolsonaro. Sempre as amenizava. Com o passar do tempo, o presidente reservou a si próprio a tarefa, de vez em quando, tenta corrigir algumas de suas bobagens diárias. O general Heleno saiu de cena.

Bolsonaro e a caneta BIC – Foto Orlando Brito

Não se sabe por que cargas d`àgua, na quinta-feira (29) o general Heleno resolveu retomar a função.”É preciso separar as coisas. As respostas duras dadas a Macron foram endereçadas a ele, não à França”. Até então parecia claro, inclusive no golpe baixo na referência à senhora Macron, que Bolsonaro participava de mais um de seus torneios de troca de insultos pessoais. Mas, na sexta-feira, Bolsonaro anunciou que estava aposentando a popular caneta BIC ( sucesso de público desde a campanha eleitoral) por ela ser francesa, criada na cidade de Clichy. Anunciou sua substituição pela caneta Compactor, fabricada em Nova Iguaçu.

Bolsonaro e a caneta Compactor – Foto Orlando Brito

Em um roda no palácio, da qual participava  o próprio Heleno, Bolsonaro reiterava sua disposição de beneficiar com o indulto de Natal policiais que cumprem penas de prisão com um alcance surpreendente. “Tem que ter coragem de usar a caneta Compactor. Não é mais a Bic, não. Ele é francesa”. Todos riram, inclusive Heleno

Pode ter sido apenas mais uma tirada no peculiar humor de Bolsonaro. Mas insinuar boicotes a produtos, mesmo em tom de brincadeira, não parece adequado quando grandes empresas multinacionais suspender a compra de produtos agropecuários brasileiros caso as queimadas e o desmatamento na Amazônia não sejam combatidos com seriedade.

Lula pilota o AeroLula – Foto Ricardo Stuckert/PR

A balança comercial entre Brasil e França, mesmo não estando entre as maiores, é relevante — é o oitavo maior importador de produto brasileiros . O Brasil compra peças de automóveis e  para a indústria aeroespacial e produtos farmacêuticos e químicos e exporta produtos agropecuários, minerais e artigos da indústria aeronáutica. Mantém parcerias na indústria bélica e são adversários nas políticas agropecuárias — a França defende com unhas e dentes os interesses de seus fazendeiros. As estocadas de Emannuel Macron em Bolsonaro, além dos defensores do meio ambiente, visa agradar também ao eleitorado rural da França.

Dilma Rousseff e o AeroLula em Roma, em 2013. Foto Roberto Stuckert Filho/PR

Outro nicho francês de sucesso no Brasil é o mercado de grifes, com seus perfumes e marcas de roupas famosas e caras. São também expoentes entre consumidores mais abastados seus vinhos e champanhes. Aparentemente nada que interesse muito a Bolsonaro. Mas o avião presidencial, o tal do AeroLula, foi construído pelo grupo Airbus, um consórcio europeu que tem como sede a cidade francesa de Toulouse. Apesar do DNA, Bolsonaro vai continuar a viajar no Airbus presidencial.

A conferir.

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