Os trunfos do PSL na queda de braço com o clã Bolsonaro

Como um partido frágil, ex-nanico, consegue armas e munição para peitar um presidente da República que o tirou da obscuridade

Os senadores Major Olímpio e Flávio Bolsonaro - Foto Orlando Brito

Com a franqueza tosca de sempre, o senador Major Olímpio pôs o dedo na ferida: os filhos com manias de príncipe desgastam e põem na berlinda o suposto reinado do pai Jair Bolsonaro. As destemperadas reações do clã Bolsonaro nas redes sociais mostraram que o tiro do major dessa vez teve uma pontaria certeira.

O vereador Carlos Bolsonaro, que sempre se arvorou e raramente foi desautorizado como principal porta-voz do pai, no estilo habitual, chutou o pau da barraca. Primeiro, chamou o Major Olímpio, que é o líder do PSL no Senado, de “Bobo da Corte”, insulto até compreensível em um bate boca sobre supostos príncipes em falso reinado. Depois, ao ser chamado de moleque, perdeu de vez a compostura:  “não uso os atributos que merece pois seria injustiça com o vaso sanitário”, “canalha”, “cadela no cio”…

O “cadela no cio” certamente é um dos traumas do clã Bolsonaro em suas narrativas nas quais são alvos de conspiração. Carlos Bolsonaro insinua que o Major Olímpio fala grosso depois de ter se bandeado para o lado do governador tucano João Doria. No confuso universo do PSL em São Paulo, quem antes rompeu com Eduardo Bolsonaro em São Paulo foram os deputados Joice Halssemann, líder do governo no Congresso, e Alexandre Frota. Doria deve agradecer receber de mão beijada o suposto apoio do Major Olímpio. Afinal, ele também rompeu com Eduardo Bolsonaro.

Bolsonaro, seu filho o senador Flávio e o governador Witzel – Foto Orlando Brito

Mas é evidente que, por trás da implosão nacional do PSL, além da reação à arrogância e à gula do clã Bolsonaro, outras opções de poder se apresentam. Doria em São Paulo é um delas. O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, que vem se dando bem no embate com o senador Flávio Bolsonaro na disputa pelo apoio do PSL no Estado, se sente à vontade para até se lançar na corrida presidencial em 2022.

Com esses dois gigantescos flancos abertos, os Bolsonaro ainda resolveram peitar o comando nacional do partido, um cartório criado e mantido há décadas por Luciano Bivar. O pretexto  da briga é o multimilionário butim dos fundos partidário e eleitoral, coisa de mais de meio bilhão de reais. A reação de Luciano Bivar, com o apoio dos líderes do PSL, grande parte da bancada e da máquina do partido, pagando para ver as cartas, deixou Bolsonaro meio falando com o vento.

Bolsonaro até fala em deixar o partido. Não passa de blefe. As regras para o jogo eleitoral no país são um camisa de força sob estrito controle dos partidos para quem quer disputar eleições, exercer mandatos. Seus filhos atribuem ao desempenho eleitoral do pai o sucesso de deputados, senadores e governadores. Têm razão. A questão é que todos eles agora têm mandato, alguns até com o dobro de duração dos quatros anos de Bolsonaro no Palácio do Planalto.

Bolsonaro e Damares – Foto Orlando Brito

Os políticos consideram tão ou mais atraente que o atual usufruto a expectativa de poder no futuro. A turma de Bolsonaro, com o intuito de evitar a dispersão da tropa, bate insistentemente na tecla de sua reeleição. Esse inclusive foi o mote da reunião no fim de semana em São Paulo, uma versão brasileira de uma já tradicional conferência conservadora americana. A ministra Damares Alves se empolgou. “isso aqui vai dar tão certo que vamos ficar 4, 8, 12 anos. Estou falando de reeleição, sim. Quatro anos não bastam para mudar. Precisamos de 12 anos”.

O que anda assustando o clã Bolsonaro nem é a fartura de opções em seu campo na direita. Os governadores João Doria e Wilson Witzel, por exemplo, já estão no páreo. É o custo eleitoral do Acordão com os presidentes do STF, Dias Toffoli, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, que prevê, em troca de salvar o pescoço do senador Flávio Bolsonaro e de outros membros da família, barrar a Lava Jato e outras investigações sobre corrupção.

Deputado Luciano Bivar e senador Major Olímpio – Foto Orlando Brito

A dúvida é até quando vai durar essa conduta errática de Bolsonaro. Os dirigentes do PSL, Luciano Bivar à frente, apostam nessa contradição. Vão para o embate na questão sobre quem quer surrupiar a grana do partido, que é dinheiro público, na expectativa de não serem flagrados em nenhum malfeito sério. Ao mesmo tempo, vão reagir com a exposição de Bolsonaro e seu Calcanhar de Aquiles, que é seu envolvimento familiar com rachadinhas na Assembleia Legislativa e as milícias no Rio de Janeiro.

A cúpula do PSL acredita que, na hipótese de um tombo de Bolsonaro, pode manter o discurso de combate à corrupção apostando suas fichas na candidatura do ministro Sérgio Moro ao Palácio do Planalto. Daí Bivar ter feito questão, no auge de seu bate boca com Bolsonaro, de se exibir à imprensa em jantar com Sérgio Moro em um badalado restaurante de Brasília.

Vem aí novos capítulos.

Vale conferir.

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