O troco do Senado no Centrão

Depois da manobra para tirar o Coaf de Moro, o Senado responde deixando caducar as mudanças dos ruralistas no Código Florestal

Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia

Até alguns senadores que achavam bom dar um sacode em Sérgio Moro se sentiram incomodados com a sem cerimônia da Câmara de empurrar goela abaixo a devolução do Coaf para o Ministério da Economia. Acharam um exagero a estratégia da faca no pescoço executada pelo Centrão a mando de caciques políticos. Boa parte dos senadores, em uma Casa bem renovada, sentiu necessidade de dar logo um troco. E com endereço certo.

Toffoli e Gilmar

A vitória na guerra sobre o Coaf por todos, dentro e fora do governo, que avaliam ser preciso cortar as asas de Moro e da Lava Jato, é um triunfo simbólico — afinal, o Coaf não vai mudar de endereço, de comando e nem de diretrizes de trabalho. O que prevaleceu na queda de braço foi a parceria de caciques políticos, Rodrigo Maia à frente, com os ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Toffoli, desafetos de Moro e da Lava Jato.

O Centrão — integrado por partidos  também chefiados por caciques enrolados na Lava Jato e em outras investigações sobre corrupção, como Valdemar Costa Neto e Ciro Nogueira — foi a ponta de lança dessa articulação. Seus líderes aprenderam com Eduardo Cunha como peitar aliados e adversários, na maior cara dura. Eles não estão nem aí pras tais redes sociais, opinião pública. Blefam, ganham ou perdem, na mesma balada.

Lula, Dirceu e Palocci

Sérgio Moro os incomoda. Por serem figuras políticas menores, papéis secundários nos escândalos, sentem menos a pressão da Lava Jato e de outras operações que Aécio Neves, Renan Calheiros, Eduardo Cunha, Lula, José Dirceu, Michel Temer, Palocci, Sérgio Cabral… A turma que está por trás no jogo contra Moro.

O Centrão é mais sensível, por exemplo, às reivindicações dos ruralistas. Eles sempre estiveram na linha de frente nos embates com os ambientalistas. Nesse campo, a avaliação é de que agora nadariam de braçada. Desde a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro  prometeu e vem cumprindo que no seu governo, em todas as bolas divididas, a preferência é dos ruralistas. Foi o que se viu nessa quarta-feira (29) na Câmara dos Deputados.

Bolsonaro e Moro

Ali foi aprovada a MP 867, enviada por Michel Temer, com o propósito de dar mais prazo para os produtores rurais adequarem suas propriedades ao Código Florestal, aprovado em 2012. Sentindo que a maré está a favor, os ruralistas esticaram a corda, alegando alterações quer dariam mais segurança jurídica na área rural. Os ambientalistas dizem que abriram a porteira em uma espécie de anistia que livra fazendeiros que, e modo ilegal, degradaram terras da obrigação de recuperá-las ou de alguma forma compensar os danos.

A  exemplo da MP da reforma administrativa, em que para tirar o Coaf da Justiça foi preciso uma carta de Bolsonaro, tendo o próprio Moro como avalista, a Medida Provisória que altera o Código Florestal vence no dia 3 de junho. Vai caducar. Davi Alcolumbre disse que essa foi uma decisão dos líderes, um troco sob medida.

O Senado não quer continuar a reboque da Câmara.

A conferir.

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