O perigoso jogo de Bolsonaro e seus generais

Estratégia palaciana de mobilizar apoiadores do governo para encurralar o Congresso, a pretexto da disputa pelo controle do Orçamento, pode ser um tiro no pé.

Bolsonaro, Mourão e Heleno - Foto Orlando Brito

O novo bunker de generais no Palácio do Planalto, sob a batuta do ministro Augusto Heleno, parece disposto a esticar a corda na queda de braço contra o Parlamento e a quem mais se oponha ao presidente Jair Bolsonaro. Está apoiando abertamente uma manifestação convocada por grupos conservadores para o dia 15 de março com a palavra de ordem “fora (Rodrigo) Maia e (Davi) Alcolumbre”, acompanhada de uma clara ameaça: “Os generais aguardam as ordens do povo”, em um panfleto digital com as fotos do vice-presidente Hamilton Mourão e do ministro Augusto Heleno.

General Santos Cruz – Foto Orlando Brito

Em plena segunda-feira de Carnaval, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, no primeiro tuíte carimbou “Irresponsábilidade” sobre as fotos dos quatro generais, entre eles Mourão e Heleno, que ilustram a tal convocação, numa explícita censura a seus colegas militares. E protestou: “Confundir o Exército com assuntos temporários de governo, partidos políticos, e pessoas é usar de má fé, mentir, enganar a população”.

Minutos depois, Santos Cruz baixou o tom. Trocou “Irresponsabilidade” por “Montagem irresponsável” e, num ostensivo recuo, mudou o alvo e abrandou o protesto: “Não confundir o Exército com alguns assuntos temporários. O uso de imagens de generais é grotesco”. O que se especula em Brasília é que, entre um e outro post, Mourão teria reclamado por não ser responsável por convocação alguma. De nada adiantou Santos Cruz excluir a responsabilidade do governo. Bolsonaro fez questão de repô-la.

Os generais Ramos e Heleno com o ministro Guedes – Foto Orlando Brito

Nessa terça-feira à noite, Bolsonaro despachou mensagem para os amigos no WathsApp com um vídeo em que as pessoas que o apoiam são convocadas a participar da manifestação. Tudo parece encadeado desde o vazamento aparentemente involuntário do desabafo do general Heleno sobre a suposta chantagem sobre o destino de R$ 31 bilhões no Orçamento da União.  O “Foda-se” do ministro-chefe do gabinete da Segurança Institucional virou grito de guerra nas redes sociais. Um levantamento sobre manifestações no Twitter, coordenado por Dione Antônio e aqui publicado, mostra que, semana passada, nada menos que 67% das manifestações políticas na rede social foram na hastag #SomosTodosGenHeleno.

Tudo isso animou a turma do Planalto a dobrar a aposta. O general Heleno disse que os apoiadores do presidente deveriam ir às ruas defender seu governo. Depois de que sentiu o cheiro de sucesso entre seus seguidores, o próprio Bolsonaro embarcou na empreitada, que está unindo os diversos grupos bolsonaristas. Até o ideólogo Olavo de Carvalho aderiu à convocação e, depois de furiosos embates com os militares, aplaudiu o general Heleno e divulgou um clipe em que usa indevidamente a canção O Pulso, dos Titãs. Arnaldo Antunes e todos seus ex-parceiros de banda protestaram.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso – Foto Orlando Brito

Fernando Henrique deu o alerta em seu Twitter: ” A ser verdade, como parece, que o próprio PR tuitou convocando uma manifestação contra o Congresso ( a democracia), estamos com uma crise institucional de consequências gravíssimas. Calar seria concordar. Melhor gritar,  com quanto se tem de voz, mesmo no Carnaval, com poucos ouvindo”. O único reparo é que Bolsonaro não usou o Twitter, de alcance quase infinito,  mas o WhatsApp para se comunicar com seu grupo mais limitado de amigos.

No mais, FHC tocou no ponto. O que leva os generais do Planalto, com o aval do próprio Bolsonaro, a bancar um ataque frontal ao Parlamento com o pedido de destituição dos seus chefes na Câmara e no Senado? Um político com reconhecido trânsito entre os militares responde: “O governo fez um mau acordo com o Congresso e agora quer recuperar o prejuízo no grito. Esse tom de ameaça por parte dos generais do governo é, ao mesmo tempo, um blefe e um teste”. Na sua avaliação, a cúpula do Congresso, sem aceitar a intimidação, tem de mostrar firmeza e jogo de cintura para escapar dessa armadilha.

Uma saída negociada do impasse evitaria uma crise institucional.

O deputado Maia e o senador Alcolumbre – Foto Orlando Brito

O problema é se todos apostarem na radicalização. Se os generais continuarem nessa escalada, Rodrigo Maia, com uma canetada, pode autorizar a tramitação de um dos muitos pedidos de impeachment de Bolsonaro, como sugere a banda esquerda de seus aliados na Câmara. E aí salve-se quem puder.

Vale conferir com atenção os próximos capítulos.

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