Lava Jato tropeça na própria soberba

Ao se deslumbrar com tantos poderes adquiridos, a Lava Jato abre brecha para o STF podar alguns deles. Quem perde é a cidadania.

Ministros Dias Toffoli, Celso Mello e Gilmar Mendes
Ministro Dias Toffoli

Lido por um advogado na sessão do Supremo nessa quarta-feira,  o artigo do procurador Diego Castor virou mote para um coro em defesa da turma do STF e da Justiça Eleitoral. O presidente Dias Toffoli resumiu a reação do plenário pedindo à Corregedoria do Ministério Público para abrir um procedimento contra o procurador por “calúnia, difamação e injúria”. Soou apenas como dever de ofício.

Mas,  o que pegou mesmo é a turma de Curitiba continuar se procedendo como nos tempos em que, quase sem armas, resistiu a ataques generalizados de caciques políticos de todos os naipes e de grandes grupos empresariais, com  forte influência na alta burocracia estatal e no Judiciário. A roda girou. O superministro Sérgio Moro escalou a turma da Lava Jato para exercer poderes sem precedentes no regime democrático. “Algumas pessoas precisam amadurecer suas críticas. Não existe uma liga da Justiça sagrada contra o resto da Justiça que seria a liga do mal”, afirmou na justificativa de seu voto o ministro Alexandre de Moraes.
Ministro Alexandre de Moraes.

O ministro Alexandre arranhou a ferida. A Lava Jato nem é o primeiro sucesso de combate à corrupção a subir à cabeça após a Constituição de 1988.  Desde o impeachment de Fernando Collor várias levas de parlamentares, procuradores, policiais e jornalistas viveram seus momentos de caça-corruptos. Muitos caíram pela estrada acusados dos mesmos malfeitos.

Além de resultados inéditos e espetaculares, como condenar e prender alguns dos maiores chefes políticos e empresariais do país, a Lava Jato espalhou Brasil afora a urgência de melhorar o trato com dinheiro público. Regras claras, contratos a prova de suspeita,
controle rigoroso e punição exemplar se andassem fora da linha. Essas condições funcionais mínimas parecem ser mais difíceis do que abrir o caminho da cadeia para os poderosos.
A própria Lava Jato pisou na bola ao negociar, no âmbito de um acordo entre a Petrobras e o governo americano, uma indenização em causa própria no valor de R$2,5 bilhões, mais da metade de todo o Orçamento do Ministério Público Federal para 2019. Pelo devaneio dos procuradores da Lava Jato, o dinheiro seria destinado a uma fundação de direito privado que o usaria para praticar o bem, mesma finalidade de 100% de todo o dinheiro público desviado no país. Por tudo o que esse país está cansando de assistir, em ene operações tidas como bem intencionadas, um provável alvo de uma futura investigação como a Lava Jato.
O que mais impressiona nem é que esse delírio precisou ser barrado. É que ele simplesmente tenha sido pensado.
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