Ensaio de metamorfose no Senado

A economia em frangalhos e o desgaste popular forçam Bolsonaro e os caciques políticos a mudarem um jeito de jogar que se esgotou.

Senador Major Olímpio -Foto Orlando Brito

Major Olímpio se destacava no plenário da Câmara por sempre se manifestar aos berros. Parecia uma maneira eficiente de chamar a atenção. Eleito senador, baixou o tom. Foi nesse novo diapasão que discursou ontem à noite durante a votação da Medida Provisória que autoriza um pente-fino nos pagamentos de benefícios pelo INSS.

Mesmo com esse recente cuidado, Major Olímpio ouviu a observação do colega Esperidião Amin que, por causa do potente microfone da tribuna do Senado, não precisava gritar para ser ouvido. Olímpio pediu desculpas, disse que, em anos como instrutor de tiros, perdeu a noção sobre a altura da própria voz.

Senadoras Fátima Bezerra, Gleisi Hoffmann e Vanessa Grazziotin – Foto Orlando Brito

Mais que a cortesia no trato, chamou a atenção a preocupação com decibéis nos discursos. Quem acompanha os debates em plenário já havia notado uma redução expressiva da estridência desde a mudança da Legislatura com as saídas de Gleisi Hoffmann, Vanessa Grazziotin, Lindberg Farias, Magno Malta…

Na extemporânea sessão do Senado em plena segunda-feira, a mudança de tom ainda foi mais relevante. O senador Jaques Wagner, estrela do PT, de maneira pausada, didática, expôs que chegou a hora de acabar com a insana queda de braço entre forças governistas e oposicionistas no parlamento. Em vez de continuarem apenas se destruindo, seria a hora das forças políticas se somarem na construção de opções melhores para o país.

Senadores Jacques Wagner e Esperidião Amin – Foto Orlando Brito

Sem maiores salamaleques, Jaques Wagner apontou um caminho para a convivência política que é, na prática, uma autocrítica que a burocracia que comanda a máquina do PT, com o aval de Lula até agora se recusou a fazer.

A partir daí, senadores identificados como governistas e de oposição rasgaram seda mútua. Parecia jogo combinado, quase um jogral. Fernando Bezerra, líder do governo Bolsonaro, fez questão de elogiar a todos e a cada partido, em um discurso em que ressaltou ser a política o caminho para a superação dos problemas que afligem o país.

Se for a vera, pode até ser uma saída para um jogo que se esgotou. Não dá mais para Bolsonaro, com a economia em frangalhos, continuar a por a culpa de tudo nos políticos em geral. Nem para os caciques políticos seguirem na obsessão em reverter punições e/ou barrar investigações sobre malfeitos com dinheiro público. Nada disso resolve o desgaste deles, cada vez mais identificados pela população como responsáveis ou coniventes com a esculhambação que virou a administração pública.

A hora é de virar esse jogo.

A conferir.

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