Como a ameaça de crise institucional virou uma barganha com o Centrão

O Muda Senado atropelou o toma lá, dá cá entre Bolsonaro e o Centrão, negociado por Davi Alcolumbre com o aval de Rodrigo Maia.

Os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia, e Davi Alcolumbre - Foto Orlando Brito

O que ganhou ares de crise institucional em pleno Carnaval cheira agora a barganha quando Brasília volta a sua rotina. Só não foi fechado um acordo, com todas as pompas e circunstâncias, pela desconfiança entre Câmara, Senado e Palácio do Planalto sobre quem levaria melhor no rateio de R$ 15 bilhões dos R$ 30 bilhões postos no balcão no rastro do tal Orçamento Impositivo.

Na lábia, os parlamentares já haviam vencido o jogo. A gula do Centrão, principal eixo de sustentação de Rodrigo Maia, que tentou abocanhar todos os R$ 30 bilhões, assustou tanto o Planalto quanto o Senado, a quem sobraria migalhas (milionárias, é verdade) diante de tamanho butim. Evidente que a Rodrigo Maia e a Davi Alcolumbre, os fiadores de qualquer acordo com toda essa grana ou com metade dela, teriam munição para abastecer aliados nesse ano eleitoral. O que se murmurava no Congresso, e foi gritado pelo senador Major Olímpio, líder do PSL, é que essa dinheirama poderia pavimentar os projetos de Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia de esticarem sua permanência no poder no Senado e na Câmara.

Senador Major Olímpio -Foto Orlando Brito

Alcolumbre tomou a frente das negociações e praticamente acertou o rateio da grana com a equipe do presidente Bolsonaro que, seguindo o script da barganha, enviou três projetos ao Congresso para serem aprovados a toque de caixa e, em seguida, sancionados por ele. Só então seus vetos seriam confirmados pelo parlamento. Esse pagamento antecipado por um acordo do presidente da República com o Congresso foi uma exigência do desconfiado Centrão praticamente aceito por todas as partes.T

Senadores Renan Calheiros e Eduardo Braga – Foto Orlando Brito

udo teria ocorrido assim, dessa forma escancarada, se não fosse a reação do grupo chamada Muda Senado, liderado por Álvaro Dias e Randolfe Rodrigues, que obteve o apoio de velhas raposas políticas assustadas com a facilidade que o Centrão passou a dar as cartas no Orçamento da União. O MDB de Renan Calheiros e Eduardo Braga engrossou a reação da banda liderada por Simone Tebet. Os tucanos também fecharam questão. Davi Alcolumbre ficou sem chão.

Bolsonaro e os vetos – Foto Orlando Brito

Como sempre, ele mudou de lado. Passou uma inversão de pauta em que se vota os vetos de Bolsonaro nessa quarta-feira e se aprecia semana que vem os três projetos de lei enviados nessa terça-feira pelo presidente, a serem até lá examinados com lupa. Bolsonaro, por exemplo, disse em suas redes sociais que não abriu mão  nessas propostas de nenhum tostão do Orçamento — a turma do Centrão não só enxergou ali R$15 bilhões como tentou superar a resistência do Senado oferecendo R$ 5 bilhões para serem rateados entre os senadores.

Tudo isso é importante. É muito dinheiro em jogo em um país tão carente. É relevante na democracia que parlamento e executivo discutam, disputem cada centavo a ser aplicado do Orçamento da União, faz parte do mandato de cada um deles. O que não é legal são as ameaças de virar a mesa, atropelar as regras democráticas. E nem fazer barganha por cima e por baixo do pano. É o que está, disfarçado ou não, nesse momento no tabuleiro.

A conferir.

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