É impressionante como as bravatas de Bolsonaro no cercadinho do Palácio do Alvorada não resistem ao menor choque de realidade com o país e a praça dos Três Poderes. Depois de suas grotescas ameaças à democracia na semana passada, na manhã dessa segunda-feira (12), ele se mostrou queixoso pela falta de apoio de “muita gente importante”, referindo-se, entre outros, aos presidentes do Senado e da Câmara, Rodrigo Pacheco e Arthur Lira, que se recusaram a endossar um golpismo explícito.
Como sempre, quando sente medo, a primeira reação de Bolsonaro é botar o rabo entre as pernas. Foi assim que, ao saber da prisão de Fabrício Queiroz na casa de seu advogado Frederic Wassef, num passe de mágica abandonou as ameaças ao Congresso e ao STF. Ali já teria sido uma guinada radical se Bolsonaro tivesse alguma coerência. Foi apenas um recuo motivado pelo receio das revelações sobre o que o seu clã aprontou no passado.
Como as rachadinhas, cada vez mais explícitas, ocorreram antes que Jair Bolsonaro chegasse à Presidência da República, prevalece a interpretação do STF de que, nesse caso, ele só pode ser investigado, denunciado e julgado após sair do Palácio do Planalto. Sem dúvida, ganhou aí uma sobrevida que tenta estender, até agora com sucesso, ao filho e senador Flávio Bolsonaro e a todo o clã.
A questão agora é um pouco mais complicada. Trata-se de um denunciado golpe milionário na esquisita e apressada compra da vacina indiana Covaxin. A partir das acusações dos irmãos Miranda, a cada revelação fede mais. Talvez isso explique o “caguei” de Bolsonaro. Ele tenta disfarçar seu medo com uma suposta valentia, que sequer consegue sustentar.
Depois do xororô no cercadinho do Alvorada, o principal compromisso de Bolsonaro nessa segunda-feira foi ir ao Supremo Tribunal Federal para um tête-à-tête com Luiz Fux, presidente do tribunal. Ali foi repreendido por suas molecagens golpistas e saiu pianinho dizendo que eles estavam alinhados na defesa da Constituição. Encarou até um quebra-queixo com repórteres, uma turma que há tempos não enfrentava e é bem diferente da que frequenta o oba-oba do cercadinho.
Ouviu perguntas de verdade, se enrolou em respondê-las. Disse, por exemplo, que o crime de prevaricação se “aplica ao servidor público, não se aplica a mim”. É no mínimo estranho como ele enche o peito para se dizer o chefe supremo das Forças Armadas e se esquiva de assumir o papel de principal servidor público do país. Ele está tão perdido que se espanta com perguntas óbvias de repórteres. Reage, por exemplo, com um pedido para que rezem o Pai Nosso. Em uma entrevista séria à imprensa, isso soa como maluquice ou malandragem. Ou ambas.
Acuado, Bolsonaro se finge de bonzinho. Até se diz “Jairzinho paz e amor”. Quando superar um tiquinho desse medo, ele volta a arrotar valentia no cercadinho de sempre.
A conferir.