As elites políticas fingem diante dos escombros da casa que caiu

Da série "O Brasil às seis da tarde": Protesto na rua. Foto Orlando Brito

Uma importante autoridade brasileira acaba de me pedir uma opinião sobre o que está acontecendo. Estava dentro de um avião da Força Aérea Brasileira embarcando para seu estado. Fiquei de responder a indagação mais tarde, depois de ele chegar a seus destino. Desliguei o telefone, parei para pensar e, em vez de teorias, análises, informações, uma música me veio a cabeça como a melhor explicação sobre o que está ocorrendo no Brasil. Com licença de Rita Lee e Roberto Carvalho, nada diz melhor sobre o que rola aqui que uma estrofe de Alô, Alô, Marciano.

“Alô, alô, marciano

A crise tá virando zona

Cada um por si todo mundo na lona

E lá se foi a mordomia

Tem muito rei aí pedindo alforria porque

Tá cada vez mais down the high society”.

Pois é. A casa caiu, antes do tempo. Já foi difícil segurar a peteca na Câmara dos Deputados até a Casa cumprir seu papel constitucional e despachar o processo de impeachment para o Senado. Como diz a música, a crise ali virou zona. Eduardo Cunha, presidente da Câmara, é proibido pela Justiça de frequentar o seu suposto lugar de trabalho, que ainda paga seu salário. Waldir Maranhão, seu vice, não consegue sequer ficar em plenário durante as sessões.

Operadores de confiança das elites políticas de quase todos os partidos, nessa fase especialmente de PT e PMDB, fazem fila em busca de delação premiada: “Cada um por si, todo mundo na lona”.

Só que a cúpula do Senado entrou na roda antes que a crise saísse dali. Um polêmico vazamento expôs o pedido de prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros. A espada continua no ar. E a cada operação, a cada delação, ela se aproxima mais. “Tem muito rei aí pedindo alforria”.

O que já se apurou por servidores do estado brasileiro é mais do que suficiente para demolir o castelinho de mordomias e falcatruas que alimentam boa parte da elite política do país. Eles fingem que não veem. Em uma mistura bilíngue que talvez eles entendam mais: “Tá cada vez mais down the high society”.  Só falta ir a mordomia. Essa é a última da fila.

 

 

 

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