A vez de Bolsonaro no jogo de blefes

Com seu governo rachado e acuado por investigações, a defesa de Bolsonaro é atacar os caciques políticos. Sem vez no governo, os caciques ameaçam tirar o governo do jogo legislativo.

Em jogos como o pôquer e a política saber blefar ajuda o sucesso. O passo em falso costuma levar ao fracasso. Isso vale para bons e maus jogadores. Algumas apostas, sagazes e surpreendentes, viraram clássicos históricos. Outras se tornaram fiascos igualmente lendários. Na maioria das vezes, não passam de jogadas efêmeras que se encerram em si próprias — parecem ser assim os blefes que se enfrentam na queda de braço entre os poderes em Brasília.

Deputado Aguinaldo Ribeiro, do Centrão

A maioria do Parlamento, pelas mãos do Centrão, vem testando o governo Bolsonaro. Mais até que a ansiedade por cargos e verbas, busca-se regras mínimas para o jogo político entre os dois poderes, prática com potencial de conflitos no mundo inteiro. Os ambíguos sinais palacianos, que alternam diálogos e pancadas, confundem os políticos e, cada vez mais, alimentam ousadias no Congresso. Entre os blefes da hora, já se fala ali em fazer as reformas da Previdência e tributária, entre outras, à revelia do governo. Na realidade, parece uma ameaça de greve em busca de um canal de entendimento.

Jair Bolsonaro reage com a mesma moeda. Sobe o tom nas pregações contra “conchavos”, em defesa de um “novo paradigma político”, na expectativa de unir os bolsonaristas contra o suposto golpe que estaria sendo armado para destituí-lo, no delirante enredo dos Olavetes e do próprio clã Bolsonaro. Acossado pelas investigações sobre os rolos do primogênito Flávio Bolsonaro, esse discurso bélico parece ser a melhor defesa para o presidente. Isso realimenta os que em seu entorno pregam a estratégia do confronto.

Janaína Paschoal

Fazem uma aposta arriscada em um grande manifestação no próximo domingo (26), que vem sendo contestada por aliados como a deputada Janaína Paschoal, em uma surpreendente lição de prudência política: “Pelo amor de Deus, parem essas convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade. Estão causando terrorismo onde não há. As pessoas estão apavoradas, escrevendo que nosso presidente está correndo risco. Ele não é amado pela esquerda, pelos formadores de opinião. É verdade. Mas quem o está colocando em risco é ele, os filhos dele e algum assessores que o cercam. Acordem! Dia 26, se as ruas estiverem vazias, Bolsonaro perceberá que terá que parar de fazer drama para trabalhar”.

Essa turma tanto atiça que pode, no próximo domingo, tomar um terceiro susto nas últimas semanas. O primeiro foi a indignação, dentro e fora dos quartéis, com a agressão de Olavo de Carvalho ao general Villas Bôas. Pegou tão mal nas hostes bolsonaristas que, depois de envergonhadas desculpas, o guru sentiu o tranco e saiu de cena. Até para ele há limites.

Ex-presidentes Fernando Collor e Dilma Rousseff.

O outro foi a dimensão das manifestações em defesa da Educação que cresceram com as provocações do próprio Bolsonaro. Com a arrogância de outros inquilinos no Planalto, como Fernando Collor e Dilma Rousseff, Bolsonaro desdenhou de um protesto legítimo e, como seus antecessores, também quebrou a cara.

A bola está com Bolsonaro. Se ele baixar o tom, buscar o diálogo — não é ceder ao tomar lá, dá cá — os caciques políticos, Rodrigo Maia à frente, que instruem o jogo do Centrão não vão insistir no blefe. Caso contrário, novos capítulos vão alimentar essa novela.

A conferir.

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