A trégua entre Bolsonaro e Witzel

Para defender o capitão da milícia morto pela polícia e não brigar com o governador do Rio, clã Bolsonaro troca de alvo e atira no PT

O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, e o presidente Jair Bolsonaro à frente. Atrás, o senador Flávio Bolsonaro - Foto: Orlando Brito

Quando o senador Flávio Bolsonaro denunciou pelo Twittter que a cremação do capitão Adriano Nóbrega era uma tentativa de “sumir com as evidências de que ele foi brutalmente assassinado na Bahia” não surpreendeu a investigadores de Brasília que desde a intervenção federal acompanham a guerra no submundo da polícia no Rio de Janeiro. “O Flávio não podia agir diferente. Ele é amigo da família e precisa contar com a boa vontade e o silêncio dela”. Ao cravar ainda na quarta-feira a suspeita de que a operação das polícias do Rio e da Bahia foi uma queima de arquivo, o senador deu um passo adiante, no que foi interpretado como uma espécie de vacina contra interpretações de que estaria no topo da lista de interessados no silêncio do capitão, peça importante nos dois escândalos que rondam o primogênito de Bolsonaro – a Rachadinha e suas ligações com as milícias no Rio de Janeiro.

Governador Rui Costa, da Bahia – Foto Orlando Brito

Até aí parecia jogo jogado, mais um capítulo da guerra que também contrapõe o governador Wilson Witzel, que elogiou a operação policial, à família Bolsonaro. Mas, três dias depois, a pretexto de comentar a matéria de capa da Veja que reforça a suspeita de que o capitão foi executado, o presidente finalmente se manifestou sobre o assunto: “Quem é o responsável pela morte do Capitão Adriano? A PM da Bahia é do PT. Precisa falar mais alguma coisa?”. Começou aí uma troca explícita de alvo. Depois da esperada reação do governador Rui Costa, Bolsonaro divulgou sábado à noite uma nota em que  chamou todo o PT para a briga ao colocar no mesmo saco uma cobrança sobre os nomes dos mandantes dos assassinatos do ex-prefeito petista Celso Daniel, da vereadora Marielle Franco e do capitão Anderson Gomes.

Ex-capitão do Bope Adriano da Nóbrega, acusado de chefiar milícias no Rio – Foto Divulgação/Polícia Civil

O troco do PT no domingo foi no mesmo tom. Acusou Bolsonaro de tentar desviar a atenção sobre a morte do miliciano Adriano, “testemunha das ligações da família Bolsonaro com o mundo do crime, das milícias e dos desvios de dinheiro no gabinete do filho Flávio. Ultrapassa os limites do cinismo ao exigir esclarecimentos sobre essa morte e as de Marielle e Anderson, sobre as quais quem deve saber muito são pessoas próximas a ele, e volta a fazer insinuações covardes sobre a morte do prefeito Celso Daniel, 18 anos atrás”.

Ainda no domingo, o presidente baixou o tom, dizendo que é preciso aguardar o resultado das investigações. Mas o bate-boca com o PT interessa a Bolsonaro e vice-versa. Durante a semana, o ministro Sérgio Moro também trocou acusações com o P-SOL sobre envolvimento com as milícias no Rio. Mas o que mais chama a atenção é que, apesar do comando da caça ao capitão Adriano Nóbrega ter sido da Polícia Civil do Rio, Bolsonaro e Witzel, que vinham às turras, dessa vez evitaram controvérsias. A dúvida é se essa suposta distensão pode impactar  investigações no Rio de Janeiro sobre encrencas do clã Bolsonaro.

A conferir.

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