A República do Galeão no STF

O risco do troco de Tofolli e Rodrigo Maia a Sérgio Moro e à Lava Jato sair dos trilhos

A estátua da Justiça, de Aldredo Cescchiatti - Foto Orlando Brito

Escrevi ontem aqui sobre a paranoia da hora, uma suposta conspiração da turma do ministro Sérgio Moro contra os presidentes do STF, Dias Tofolli, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. Algumas fontes me criticaram por ter contado apenas um pedaço da missa. A briga nos bastidores da República teria um alcance bem maior.

No STF e no Congresso, a Lava Jato continua sendo a adversária a ser batida. Mas, primeira ressalva a meu post, a não inclusão no pacote dessa suposta conspiração atribuída à turma de Moro o aval do Palácio do Planalto e da família Bolsonaro. Caciques políticos e alguns ministros do Supremo fazem questão de também pôr isso na conta.

Sergio Moro. Foto Orlandp Brito

O troco, portanto, tem alcances variados. No fim de semana, Rodrigo Maia, Centrão e companhia definiram alvos que vão de um atraso na votação da reforma da Previdência à total desidratação do pacote anti-crime de Sérgio Moro. Dois exemplos: a recusa da transferência do Coaf da Economia para a Justiça e a rejeição da proposta, mesmo se antes for aprovada pelo Senado, de autorizar prisão a partir da condenação em segundo instância.

Presidente do STF Dias Toffoli. Foto Orlando Brito

A intenção é na manha levar Sérgio Moro ao impasse se vale ou não permanecer no governo. A ajuda decisiva para isso viria, como já está vindo, do outro lado da praça dos três poderes, a sede do STF. O inquérito que Tofolli instaurou, que vem sendo tocado pelo ministro Alexandre de Moraes, é o antigo sonho de Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski de enquadrar a Lava Jato.

Desde sexta-feira, quando Tofolli e Alexandre de Moraes resolveram endurecer o jogo a partir de represálias aos sites Crusoé e O Antagonista, a expectativa em alguns gabinetes no STF e em reuniões  no fim de semana da turma de Rodrigo Maia é de que esta semana começaria diferente. Na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, haveria uma mudança de preferência até então da reforma da Previdência em favor da emenda sobre Orçamento impositivo ( o que de fato ocorreu) só para dar mais um recado ao governo Bolsonaro.  Mas quem pegaria o touro à unha seria o STF.

Aeroporto do Galeão em 1954. Foto Acervo Ultima Hora

Dito e feito. Só não deu o resultado esperado. A decisão de censurar a reportagem da revista Crusoé foi um tiro no pé. Expôs o autoritarismo de um inquérito criado fora dos trâmites legais e que parece se inspirar — em tempo, espaço e circunstâncias muito diferentes — na malfadada República do Galeão que teria começado com boas intenções e  resultou no suicídio de Getúlio Vargas.

O que se alega é se tratar de um freio aos excessos da Lava Jato, que estaria escolhendo alvos de acordo com seus interesses. Pelas explicações que me deram, O Antagonista e os interesses que estariam por trás dele justificariam o corretivo da Justiça. Que investiguem e punam se houver mesmo picaretagem. Sem bulir na liberdade de imprensa.

Ministro Alexandre de Moraes. Foto Orlando Brito

Os sites censurados tomaram uma providência exemplar. Pediram que as ações da dobradinha Tofolli/Alexandre de Moraes tenham sua legalidade avaliada pelo pleno do Supremo Tribunal Federal.

A conferir.

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