A covardia de um presidente que tem medo até da eficiência em sua equipe

Envolvido pela paranoia do clã familiar, Jair Bolsonaro parece ter perdido a noção de quem é amigo ou inimigo em seu próprio governo

Bolsonaro com o filho Eduardo na portaria do Alvorada - Foto Orlando Brito

Jair Bolsonaro está com medo. O medo é paralisante. A cada aparição, ele expõe um novo temor. Na manhã dessa quinta-feira, ao sair do Palácio da Alvorada, ignorou as garantias dadas pelo STF, Congresso, apoio da sociedade e até pelo bom senso, e se justificou, a perplexos repórteres: “Vocês querem que eu cave a minha própria sepultura”. O receio subjacente seriam as pedaladas que, em tempos sem pandemia e nenhum aval institucional, levaram ao impeachment de Dilma Rousseff. Nada a ver.

Alimentam, é verdade, temores nos que efetivamente autorizam despesas na cadeia burocrática no Executivo. Se eles sequer têm a cobertura presidencial, não há pandemia que os faça assinar atos que possam persegui-los pelo resto da vida. Depois de tantas pancadas, dá para contabilizar essa cautela entre os méritos e os defeitos na máquina pública. Mais uma razão para que essa responsabilidade, em questões de tamanha relevância nacional, fique restrita ao andar de cima.

Servem principalmente para pilhar os devotos do bolsonarismo que, nas redes sociais, reproduzem as mais estapafúrdias teorias da conspiração. O problema é que essa errática estratégia presidencial atrasa a chegada do dinheiro para atender a emergências país afora a quem de fato precisa. Uma crueldade desnecessária.

No Planalto, Bolsonaro, com os ministros Mandetta, Guedes e Moro falam da crise do coronavírus – Foto Orlando Brito

A paranoia do clã Bolsonaro com todos o que podem atrapalhar o projeto familiar de poder, motivo de trombadas e baixas desde o início do governo, cega o presidente da República até na gestão de sua equipe ministerial. Um time que em boa parte, independente de preferências partidárias, foi a melhor surpresa de Bolsonaro com a escalação de Sérgio Moro, Paulo Guedes, Tereza Cristina, Henrique Mandetta, Tarcísio Freitas e alguns bons ministros militares. Mesmo com alguns desfalques, a espinha dorsal até agora continua boa. Faz funcionar a máquina pública.

Isso deveria ser um alento. Mas é encarado como um obstáculo por um obscuro grupo, cada vez mais influente, de aconselhamento presidencial montado no Palácio do Planalto pelo filho Carlos Bolsonaro. Essa turma, insuflada por Olavo de Carvalho e sua galera, avalia que a epidemia desse novo vírus é um golpe conjunto armado no submundo dos serviços secretos russo e chinês.

Pode parecer maluquice, mas o atual presidente do Brasil e seus filhos acreditam nisso. Mesmo quando tentam disfarçar, como se flagrados por algum malfeito, deixam pistas nas redes sociais. Parecem um teste pra porem a cara a tapa. Ás vezes funciona, outras não.

O que agora não deu certo foram os testes para queimar o ministro Mandetta. Esse tipo de fusível havia falhado quando Bolsonaro testou a mesma fritura com Sérgio Moro. Bolsonaro agora, após seus habituais vai e vem, resolveu ser mais ousado. Talvez para impressionar parte da sua turma que reclama de atitudes. Dessa vez, Mandetta era o alvo.

Bolsonaro na Rádio Jovem Pan

“O Mandetta já sabe que a gente está se bicando há algum tempo”, disse Jair Bolsonaro, acrescentando em entrevista à Rádio Joven Pan que Mandetta “em algum momento extrapolou”, ao avaliar a atuação do comandante efetivo da nossa maior guerra republicana. Depois dessa puxada de tapete, ainda alegou que não pretendia demitir o ministro no meio da guerra. Pura covardia.

Se o suposto chefe da guerra do Brasil contra uma devastadora pandemia não consegue sequer comandar seus generais chegou a hora de pedir o boné.

A conferir.

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