O presidente eleito Jair Bolsonaro tem se equilibrado no fio da navalha desde que venceu Fernando Haddad e impôs uma derrota incontestável sobre o PT e o ex-presidente Lula. A despeito do apoio popular recebido das urnas, que despertou paixões e também ódios. Haja vista a facada da qual foi vítima durante a campanha.
Para quem nunca exerceu um mandato no Executivo antes, pode-se dizer que ele está se saindo melhor do que muitos imaginavam. Especialmente se levado em conta que está cercado por gente também sem muita experiência em lidar com o assédio da imprensa e dos próprios aliados.
A exceção talvez seja o futuro chefe da Casa Militar, general Augusto Heleno, cujas passagens anteriores pelo Palácio do Planalto o prepararam para suportar a pressão e reconhecer as cascas de banana deixadas no caminho de quem está próximo do Poder. Certamente por isso Bolsonaro preferiu mantê-lo a poucos metros de seu futuro gabinete.
A escolha de Sérgio Moro para a Justiça, talvez tenha sido o seu primeiro gol de placa. Assegurou elogios até mesmo na ala tucana que prefere manter uma distância regulamentar do presidente eleito.
Deu liberdade para seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, montar sua equipe, incluindo as nomeações para a Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica e BNDES. O que lhe rendeu aplausos de economistas que apostavam que o chamado “Posto Ipiranga” enfrentaria resistências dentro do governo logo de cara.
A expectativa é enorme em cima desses dois super ministros. O que, por ironia do destino, pode também ajudar a encurtar a lua de mel do novo governo com seus eleitores. Pois não será fácil acabar com a corrupção e derrotar o crime organizado de cara, como parte do eleitorado de Bolsonaro e admiradores de Moro esperam. Esse é um trabalho de longo prazo. Tampouco pode-se esperar que a economia brasileira conseguirá se recuperar rapidamente a partir de janeiro próximo.
O primeiro teste de fogo virá com a retomada do debate e votação da reforma da Previdência, considerada a prioridade das prioridades.
Por mais que o PSL tenha conseguido eleger a segunda maior bancada da Câmara e o governo estime que poderá contar em sua base com no mínimo 222 deputados, além de 23 senadores, Bolsonaro ainda não sabe como essa turma se comportará durante o debate que será travado no Congresso. Além de não serem suficientes para aprovar mudanças constitucionais, parte dessa turma se elegeu, assim como o presidente, com o apoio de seus milhares de seguidores nas redes sociais.
Se não tiver um bom discurso para vender as mudanças que vai propor para a Previdência, uma eventual pressão contra nas redes poderá influenciar no placar dessa votação.
No mercado financeiro, a aposta é que Bolsonaro terá necessariamente de ceder cargos nos segundos e terceiros escalões, bem como negociar a liberação de emendas, para vencer as resistências dos próprios aliados em votar medidas impopulares.
A chiadeira começou dentro do próprio partido de Bolsonaro e já contaminou o centrão, que não engoliu os três ministros do DEM. Ainda que dois deles tenham sido indicação das bancadas da Agricultura e da Saúde. Aliás, essa foi uma estratégia interessante de Bolsonaro para fugir da pressão dos partidos aliados, mas de eficácia incerta.
Vale lembrar que no meio do caminho, teremos uma acirrada disputa pelos comandos da Câmara e do Senado. Por mais que já tenha declarado que não pretende colocar a mão nesta cumbuca, se deixar correr solto, Bolsonaro pode ter alguém sem experiência e pulso para conduzir a votação da reforma da Previdência.
A avaliação é que Bolsonaro perdeu a chance de garantir já algum avanço na reforma este ano, por não ter se organizado para sentar, no dia seguinte de sua vitória, e fechar um plano junto com o Congresso.
A avaliação é que Bolsonaro perdeu a chance de garantir já algum avanço na reforma este ano, por não ter se organizado para sentar, no dia seguinte de sua vitória, e fechar um plano junto com o Congresso.
Para acelerar a tramitação no próximo ano, há quem defenda que o governo deveria aproveitar o texto base enviado pelo presidente Michel Temer, que já passou pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e pela Comissão Especial. Economizaria no mínimo três meses e as modificações propostas pelo governo Bolsonaro poderiam ser apresentadas na forma de emenda.