O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, admitiu em entrevista ao “Jornal das Dez” da Globonews, ontem (15) à noite, que seu maior medo hoje é não conseguir atender as expectativas depositadas em suas mãos na difícil batalha que se propôs a travar contra a corrupção e o crime organizado.
Tem razão de ser a preocupação de Moro. Seu primeiro teste de fogo aconteceu nos primeiros 15 dias do recém empossado governo Bolsonaro com a crise de segurança que eclodiu no Ceará e colocou sua estratégia de ação à prova.
Mas em dez dias, após a intervenção da Força Nacional e transferência de líderes criminosos para presídios federais disponibilizados pelo governo federal, a situação assustadora, enfrentada pelos cearenses e milhares de turistas que costumam visitar o estado durante o verão, caminha para ser controlada, atesta o ministro.
Segundo Moro, os 77 ataques orquestrados pelos criminosos no Ceará no dia 6 de janeiro, dia mais violento registrado ao longo da crise, caíram para menos de seis ontem (15).
Ciente de que a luta que tem pela frente não é fácil, Moro considera que o remédio para a situação é universal: investigações exitosas, isolamento de lideranças criminosas e asfixia financeira das organizações criminosas.
Na opinião de Moro, ações como as registradas no Ceará podem ser classificadas como atos terroristas, na medida em que os criminosos agiram para incutir o medo e chantagear o Poder Público, justamente no momento em que este resolveu enfrentar o crime organizado.
Dentro deste quadro, Moro defendeu o projeto de lei do senador Lasier Martins (PSD-RS), que inclui como práticas terroristas incendiar, depredar, saquear, destruir ou explodir meios de transporte ou qualquer bem público ou privado e interferir, sabotar ou danificar sistemas de informática ou bancos de dados.
A proposta estabelece ainda que a pena para todas essas condutas será de 12 a 30 anos de reclusão.
A matéria, no entanto, gera polêmica na medida em que abre brecha para a criminalização de ações de movimentos sociais, como por exemplo do MST.
Mas Moro descartou a possibilidade de o projeto ser usado para coibir qualquer tipo de manifestação de expressão de setores da sociedade.
O ministro também conseguiu sair-se bem de vários temas polêmicos sobre os quais foi indagado por quase duas horas de entrevista, entre eles o decreto assinado por Bolsonaro que flexibiliza a posse de armas.
Promessa de campanha do presidente da República, o decreto não conta com o apoio majoritário dos brasileiros de acordo com pesquisa do Datafolha, mas foi explicado didaticamente pelo ministro sem excessos, o que expôs a habilidade política de Moro para lidar com as polêmicas do governo Bolsonaro.
Uma habilidade que se repetiu também ao ser convidado a expor sua opinião sobre as movimentações financeiras atípicas do ex-assessor do filho do presidente e a confissão de seu colega Onyx Lorenzoni, que admitiu ter feito caixa dois em campanha.
Moro disse que não cabe a ele comentar casos específicos de investigações e ações em curso, mas garantir que os órgãos de fiscalização sigam atuando no combate à corrupção e ao crime organizado.
Vale ressaltar que no caso de Onyx, ele foi um pouco além e lembrou que a postura do colega de admitir que errou e ter declarado que se sujeitará a uma eventual punição mostra uma postura diferente da grande maioria que cometeu o mesmo crime.
Por fim, deixou claro que não pretende mais responder a qualquer acusação ou provocação que venha do ex-presidente Lula: “Lula faz parte do meu passado. Não faz parte do meu presente e nem fará do meu futuro”.