Em contagem regressiva para assumir o governo no próximo dia 1º de janeiro, o presidente eleito Jair Bolsonaro já começou a sentir a pressão pela proximidade do fim da transição. Período este que não deixa de ser uma espécie de treino para sua equipe ministerial, ainda em formação. O jogo está próximo de começar.
Ainda que tenha aberto sua agenda nesta terça-feira (4) para os partidos políticos, depois de ter limitado às bancadas setoriais apenas algumas indicações para áreas estratégicas, como Agricultura e Saúde, Bolsonaro dá sinais de que está disposto a seguir a cartilha que vendeu durante a campanha presidencial.
Mais do que encarnar o antipetismo, Bolsonaro assumiu compromissos claros de combate à corrupção e decretou o fim do chamado “toma lá, dá cá” nas negociações com o Congresso Nacional. Até agora, mais agradou do que decepcionou seus eleitores de raiz, aqueles que comungam com ele até mesmo suas ideias mais polêmicas.
O fato é que a grande expectativa dos eleitores de Bolsonaro está prestes a deixar o plano imaginário para se deparar com a realidade dos problemas do dia-a-dia. E Bolsonaro não terá mais a desculpa de que ainda não tem o poder nas mãos para fazer com que as coisas deem certo.
E desafios não faltarão. Um deles poderá ser a nova paralisação dos caminhoneiros articulada para o próximo dia 22 de janeiro, dois dias após a data prevista para a revisão da tabela do frete mínimo.
Ciente de que as batalhas que terá pela frente não serão fáceis, Bolsonaro surpreendeu ontem ao admitir que a reforma da Previdência poderá ser fatiada. O que preocupa o mercado financeiro, que já havia reagido mal às declarações do futuro ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, de que o governo tem quatro anos para aprovar as mudanças previdenciárias.
Se por um lado a estratégia de Bolsonaro pode parecer interessante, na medida em que o governo evitaria jogar todas suas fichas numa só votação, por outro gera desconfiança. Isso porque normalmente os governos em começo de mandato têm mais força política para aprovar suas propostas. O temor é que o presidente eleito desperdice esse capital inicial e a esperada reforma possa ser inviabilizada mais adiante.
De qualquer forma, Bolsonaro adiantou os pontos do discurso com o qual pretende reduzir as resistências à reforma, especialmente da sociedade. Avisou que ela começará pela fixação de uma idade mínima para aposentaria e pelo setor público, tendo como foco o fim de privilégios.
O presidente eleito também reiterou ontem como pretende lidar com denúncias que atinjam seus auxiliares, ao declarar não estar “nada preocupado” com os problemas de seu futuro chefe da Casa Civil com a Justiça. Segundo ele, “havendo qualquer acusação robusta de algo de irregularidade”, tomará providências, assim como havia combinado com seu futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Outro tema que Bolsonaro terá de administrar será a disputa pelo comando das duas Casas do Congresso, por mais que já tenha dito que o governo não pretende interferir diretamente nisso. Seu filho e futuro senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), no giro que fez nesta terça-feira (4) pelo Senado, abriu guerra contra a candidatura de um dos mais resistentes representantes da antiga política brasileira, o senador Renan Calheiros (MDB-AL).
Sem dúvida, a eleição para as presidências da Câmara e Senado ajudará a medir o poder de fogo de Bolsonaro e da bancada governista no Legislativo. Tudo indica que esses serão os primeiros duelos entre a nova e a velha política brasileira.