A resistência do presidente eleito Jair Bolsonaro e seu entorno em profissionalizar a comunicação do governo de transição, que hoje inicia uma nova fase com a diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), está fazendo que os tropeços iniciais em sua relação com a imprensa se transformem em erros estratégicos. E isso já começou a desgastar essa equipe antes mesmo de sua posse.
Goste-se ou não da imprensa, considere-se ou não ela isenta ou partidária, o fato é que a mídia faz parte de uma democracia e, definitivamente, não largará do pé do novo governo. Se não há como escapar dessa cobertura espontânea do Poder, o caminho mais seguro é tentar usar os holofotes a seu favor ou ao menos dispor de algum anteparo. Mas para isso, é importante deixar a condução dessa relação nas mãos de profissionais.
A turma que está chegando ao Poder — por mais que alguns já estivessem acostumados a lidar com o assédio da imprensa, ainda que em circunstâncias diferentes — só agora está sentindo na pele o peso que cada palavra ou atitude mal interpretada poderá ter sobre o governo como um todo.
Na tentativa de manter o discurso da campanha eleitoral, rigoroso com qualquer tipo desvio de conduta, o presidente e seus principais ministros começaram a se perder e bater cabeça diante das primeiras suspeitas que respingam sobre os integrantes do futuro governo.
Ao tentar explicar os depósitos suspeitos de um ex-motorista de seu filho Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) na conta da futura primeira-dama do país, o presidente eleito levou a crise para o seu próprio colo. Resultado da falta de uma estratégia de comunicação para lidar com a primeira crise de imagem do novo governo.
O futuro ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, não conseguiu se sair melhor do que Bolsonaro diante da pressão para que comentasse a movimentação financeira suspeita do ex-funcionário do gabinete de Flávio Bolsonaro. Pior, acabou usando o batido discurso do PT para se defender de acusações, ao questionar onde estava Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) na época do mensalão e do petróleo. E não conseguiu disfarçar a irritação com a pressão ao abandonar uma entrevista coletiva.
Diante desse quadro, o silêncio foi a opção do futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Mas isso não o livrará de questionamentos futuros sobre o tema, ainda mais se tratando de um ex-magistrado que ganhou notoriedade justamente pelo rigor em seus julgamentos e sua cruzada contra a corrupção.
Restou ao presidente eleito, mais uma vez, tentar matar a bola no peito e voltar a jogar. Sem muitas alternativas, repetiu o próprio filho Flávio Bolsonaro e cobrou explicações públicas do ex-motorista da Alerj, para quem admitiu ter emprestado R$ 40 mil e movimentou mais de R$ 1 milhão.
O presidente eleito deve estar ciente que o assunto está longe de ser esquecido ou resolvido. E ainda deverá dar muita dor de cabeça para o futuro governo. Ainda mais sem uma rede de proteção de uma equipe de comunicação especializada.