Como sabemos, nessa semana o número de mortos pela Covid-19 no Brasil ultrapassou a 100 mil. Entre as vidas que se foram está a de um importante líder dos índios, o cacique Aritana, de 71 anos, da aldeia Yawalapiti, do Xingu. Aliás, outro grande defensor da causa indígena, o Arcebispo Emérito de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, também faleceu sábado passado, aos 92.
O índio Yanahin é um antigo amigo. Guerreiro em vários aspectos. Trabalha na roça, dirige – aliás, dirigia – a camionete da FUNAI que presta – aliás, prestava – assistência médica nas aldeias do Xingu. Falo praticamente todos os dias com o Yanahin pelas telas do computer, nas redes sociais da Internet. Figuraça. Atualizado, atento ao que acontece no mundo dos brancos e aos detalhes seu povo. É fotógrafo. Baita fotógrafo. Documenta de maneira impressionante os lances que vê em suas andanças pelo Parque, situado ao Norte de Mato Grosso.
Preocupado com o estado de saúde do cacique Aritana, perguntei-lhe sobre a situação geral dos índios. Ele, que tem contato direto e permanente com as aldeias que habitam o Xingu, então me disse que das 16 etnias que lá estão, somente três não registram, ainda, a contaminação pelo coronavírus: a dele, Piyulaga, Waurá; os Aweti e os Mehinako.
Explicou-me que com a diminuição dos serviços de atendimento da FUNAI, os perigos chegaram para valer. Tanto que há nesse momento em torno de duas dezenas de índios que contraíram a Covid. A “salvação” fica a cargo da equipe itinerante de médicos e enfermeiros que lá estão, por conta de um convênio com a UNIFESP. São profissionais que percorrem as tribos orientando e fazendo o que está ao alcance como prevenção ao contágio do vírus corona. É só ver nas fotos que Yanahin Waurá me mandou por e-mail, direto de sua aldeia.
A criação de uma área de proteção que abrigasse os índios brasileiros era inspiração que remonta aos tempos do marechal Rondon, ainda na década de 1940. Todavia, o objetivo somente foi alcançado em 1961, no breve governo Jânio Quadros. Após novas iniciativas, dessa vez do antropólogo Darcy Ribeiro e dos sertanistas irmãos Villas-Boas, criou-se, por fim, o Parque Indígena do Xingu. Lá vivem hoje 16 etnias (Aweti, Ikpeng, Kaiabi, Kalapalo, Kamaiurá, Kisedjê, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nafukuá, Naruvotu, Waurá, Tapayuna, Trumai, Yudjá e Yawalapiti) e residem em torno de seis mil índios.