Em 2020, uma carta assinada por 152 bispos e arcebispos da Igreja Católica veio a público e nela os graduados da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil criticavam o governo de Jair Bolsonaro. Dizem que o desprezo pela educação, cultura, saúde e pela democracia os deixa estarrecidos. E ainda que o presidente tem incapacidade para enfrentar crises. O Palácio do Planalto preferiu não responder ao documento.
Lembrei-me que desde os primórdios do governo do marechal Castello Branco, nos idos dos anos 1960, até os tempos da abertura política — no período do general Ernesto Geisel e, depois, João Figueiredo na Presidência da República — a CNBB era das mais importantes frentes de defesa da redemocratização do Brasil. Os principais nomes a empunhar essa bandeira eram os cardeais Avelar Brandão, irmão do então senador Teotônio Villela, o “Menestrel de Alagoas”, e os gaúchos Ivo e Aloísio, que eram primos.
É verdade que além deles havia outras destacadas vozes da Igreja preocupadas com o destino político do Brasil. Por exemplo, Dom Luciano Mendes de Almeida, arcebispo de Mariana, e Dom Hélder Câmara, de Olinda. Também Dom Paulo Evaristo Arns, de São Paulo, e Dom Eugênio Salles, do Rio. E ainda Antônio Fragoso, de Cratéus e ainda, Dom Pedro Casaldaliga, de São Félix do Araguaia, e Dom Tomás Balduino, de Goiânia, além de outros.
Mas eram os três — os arcebispos Avelar Brandão, Ivo e Aluízio — os mais mais ouvidos. Além dos cardeais, alguns padres também pediam respeito à democracia. Formavam o que na época o pessoal da “linha-dura” dos quartéis chamava de “grupo dos liberais vermelhos”.
Consta da história que, na verdade, a Igreja inicialmente apoiou o Golpe de 1964. Mas logo depois, com o endurecimento do regime, passou a denunciar as constantes violações dos direitos humanos e da liberdade.
Falando especificamente sobre essa imagem aí: eu trabalhava no jornal O Globo, do Rio, e cobria os assuntos do poder, a Presidência da República e o Congresso Nacional. Nesse dia, tive que sair do Planalto e chegar a tempo de fotografar os três cardeais, ainda na entrevista que davam na sede Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O assunto era grave: convocaram os jornalistas para dizer do repúdio à morte do operário Manuel Fiel Filho em uma cela do DOI-CODI, em São Paulo, em janeiro de 1976.