Tudo indica que em agosto, mais uma vez, a história vai se repetir. Não se sabe se como farsa ou como tragédia, como vaticinam os teóricos, ou se nem uma coisa nem outra. Mas vai se repetir como fato: mais uma vez dois gigantes da política entram em confronto e acabam os dois derrubados.
O mais recente caso no Brasil ocorreu entre os senadores e ex-presidentes do Senado Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA). Ambos acabaram tendo que renunciar. Ambos viveram um período de ostracismo. Depois voltaram à política, mas nunca mais tiveram a dimensão do passado.
Em agosto, tudo indica que – depois de mais de um ano de guerra entre os dois — o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) terá seu mandato cassado e a presidente afastada, Dilma Rousseff, terá seu impeachment definitivamente aprovado.
Cunha, aparentemente menor na política, mas tendo por trás o maior partido do país, o PMDB, e a antiga oposição, capitaneada pelo PSDB. Dilma, aparentemente mais forte por ser presidente, mas sem o entusiasmo de seu partido, o PT, atropelado pelo rolo compressor da Lava Jato.
O presidente em exercício, Michel Temer, e seus auxiliares no Palácio do Planalto apostam no desfecho do embate Cunha-Dilma como um momento de virada na política do país e, até, de uma possível pacificação, abrindo-se um canal de entendimento com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e o PT, para a aprovação de projetos polêmicos no Congresso.
Seria uma espécie de acordo: “Nós entregamos o Cunha, vocês entregaram Dilma, então vamos começar a tratar do país e de nossas vidas.”
Um acordo que até pode passar pela cabeça de Lula, acossado pelas denúncias da Lava Jato, e de Michel Temer, pressionado pelas dificuldades de gerir um país. Mas que não leva em conta os demais agentes da política.
No andar de baixo, não leva em conta os movimentos sociais, que prometem não dar trégua ao arrocho econômico que se anuncia. No andar de cima, o mercado, que cobra um ajuste fiscal mais duro e o fechamento das torneiras que o governo abriu para o fisiologismo a fim de aprovar o impeachment. Vide editorial de hoje do jornal O Globo com a seguinte ameaça: “O risco, porém, é, ao tentar satisfazer a todos, Temer inviabilizar seu possível governo até 31 de dezembro de 2018”.
E não conta, sobretudo, com a reação dos possíveis derrotados num acordo destes. Não se sabe como reagirão Dilma e Cunha. Aliás, o ex-presidente da Câmara já tem insinuado reservadamente que não morrerá calado.