Aumentou consideravelmente a temperatura da crise que envolve o governo de Jair Bolsonaro, chefe do Executivo, com os poderes Judiciário e Legislativo.
Nessa quarta-feira o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes, determinou operação policial contra várias pessoas ligadas ao grupo de Jair Bolsonaro acusando-as de por meio de notícias falsas, as tais fake-news na Internet, comandarem sob orientação do “gabinete do ódio” do Palácio Planalto ataques a instituições, autoridades e todo tipo de gente. São calúnias e ameças a afrontar a reputação de instituições e autoridades e a estabilidade democrática.
É vasta a lista de personagens envolvidas na operação posta em ação na quarta-feira. Envolve deputadas e deputados federais e estaduais, empresários, blogueiros e vários outros apoiadores do presidente da República. A reação do lado bolsonarista foi imediata. De Roberto Jefferson à ativista Sara Winter, umas das líderes do grupo 300 do Brasil, acampado no estacionamento do Ministério da Justiça. Ambos proferiram palavras de desqualificação do Supremo e ataques ao ministro Moraes.
Não tardou para que reações viessem também de instituições, entidades e vozes as mais importantes do País. Por exemplo, do presidente da Câmara, falando em nome do Legislativo. E da própria Suprema Corte. O ministro Luiz Fux leu carta em defesa do Judiciário e da democracia.
Na noite de quarta-feira, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, contribuiu para o aumento da tensão jogando mais mais gasolina na fogueira. Disse nas redes sociais que o golpe já não é mais questão de “se”, mas de “quando”. Quer não somente o fim do inquérito instaurado pelo magistrado Alexandre de Moraes. Deseja punição do próprio ministro do Supremo Tribunal Federal “por abuso de autoridade”. Disse que seu pai pode ser levado a comandar uma “ruptura democrática’.
É preciso saber que golpe é esse que a todo momento os aliados de Bolsonaro usam como ameaça à normalidade democrática. Em todas as manifestações de apoio ao presidente na Esplanada dos Ministérios e na Praça dos Três Poderes, estão presentes faixas amarelas com letras escuras pedindo intervenção militar.
Se a questão — como diz o deputado Eduardo Bolsonaro — não é “se” e sim “quando”, resta esperar o desfecho. Será que no mundo atual há espaço ainda para, como em 1964, tropas das Forças Armadas fecharem o Supremo Tribunal Federal e o Congresso Nacional?
Contudo, como dizia o general Golbery do Couto e Silva, pode acontecer tudo. Inclusive o nada.