As incertezas sobre o futuro da economia do Brasil podem ser aferidas nas taxas de juros de longo prazo e na desvalorização do real. As instituições financeiras identificam dois fatores de maior importâncias param a deterioração das expectativas: o efeito do coronavírus sobre o setor produtivo e a forma de governar o País de Jair Bolsonaro.
Ainda não está claro quando tempo vai levar para o início do achatamento da curva de mortes, condição para começar um processo de volta da normalidade em algumas atividades da economia. Um estudo feito pelo Banco do Brasil, uma das três instituições financeiras sob a responsabilidade do ministro da Economia, Paulo Guedes, indica que se a economia voltará à normalidade em 15 de junho.
PIB despenca
O mesmo estudo prevê queda do Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 vai cair 4,7% este ano. Se o isolamento social durar mais de um mês a queda subiria para 4,9%.
Com o número recorde de infectados e mortos fazer qualquer estimativa do que vai acontecer na próxima semana é uma temeridade. É claro que o BB está trabalhando com dados desta semana. No entanto, a instituição está estimando em 11% a queda do PIB trimestral de junho.
Caso tudo volte à normalidade neste mesmo mês, o PIB teria um aumento de 7,9% no trimestre de setembro em função da comparação com uma base muito baixa do trimestre anterior de tal forma que no trimestre de dezembro voltaria para um patamar de 1,5% e, daí em diante, ficaria na casas dos 0,4%.
A economia do País só voltaria em 2021 a ter um crescimento compatível ao que tinha antes do início da pandemia do coronavírus.
Quem se recupera antes
O retorno do crescimento da economia neste ano de 2020 não será na mesma intensidade para todos os segmentos. A atividade de comércio de supermercados, logística, telecomunicações, produtos de higiene e limpeza terá forte alta no curto prazo e estabilização no médio prazo. Segmentos de roupas, eletrodomésticos, bens de consumo continuam com forte queda no curto prazo, mas com expectativa de retomada mais lenta. Segmento de automóveis deverá ser o último deste segmento à voltar a normalidade de venda. O setores de hotelaria, turismo, aviação, shows musicais e outras atividades culturais serão os últimos a voltar ao que eram antes.
O aumento do desemprego, a queda de renda e os custos dos financiamentos são fatores fundamentais para o aumento do consumo de bens que podem ser adiados. O presidente Jair Bolsonaro estimou em torno de 10 milhões de pessoas que vão perder emprego de carteira assinada. Somados aos 12 milhões que existiam antes do coronavírus isso indica uma considerável perda de capacidade de consumo das famílias.
Bancos: o dinheiro entra, mas não sai
O custo dos empréstimos junto aos bancos, embora a taxa básica esteja em 3% e o Banco Central tenha liberado os compulsórios e feito injeção de liquidez no mercado, continuam proibitivos. Como já tratamos aqui, o dinheiro não está chegando ao setor produtivo e os bancos acabam fazendo aplicações em títulos do Tesouro Nacional, pela liquidez e segurança.
Os bancos estão embutindo taxas de juros elevadíssimas ao tomador de crédito para fazer frente aos riscos de inadimplência e os custos dos juros de longo prazo. Com aumento da dívida publica de 75,6% do PIB para 89,9 do PIB em 2020, para fazer frente aos gastos com o coronavírus o risco do Tesouro o honrar seus compromissos aumentou. Os bancos estimam que a taxa Selic já em 2021 poderia voltar a 3,5% ao ano depois de cair para 2,25% em 2020.
Os dados acima, de endividamento, podem estar subestimados. É que o governo já esta notando que serão necessários mais recursos para enfrentar os efeitos do endividamento, que para alguns economistas levaria o déficit primário para cerca de R$ 1,3 trilhão neste ano. Fora isso, as condições de aprovação das medias de ajuste fiscal no Congresso Nacional estão cada dia mais difíceis, em grande parte pelo jeito temerário de Bolsonaro governar, como ficou explicito nos vídeos divulgados pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Para piorar, um presidente brigão
O reflexo destas crises constantes em torno do presidente da República é refletido na desvalorização do real diante do dólar. Um estudo que circula junto aos bancos indica que em metade dos fatores de desvalorização do real de R$ 0,73 em março, quando a moeda foi para R$ 5,21, deve-se a fatores externos e internos.
Em maio, quando o real foi para R$ 5,81, a desvalorização da moeda de R$ 0,32 tem como principal explicação a fuga de capital com medo de um processo movido no STF em função da demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro. Foi constatado um peso menor do efeito da redução das taxas de juros domésticas. É verdade que em condições normais da economia mundial a desvalorização da moeda poderia elevar nossas exportações, o que contribuiria para aumentar os empregos e a arrecadação dos impostos.
Tirando o setor do agronegócios que continua exportando nos mesmos patamares, os demais segmentos exportadores não estão tendo como se beneficiar pela queda da produção interna e das exportações. Nos atuais patamares de câmbio as empresas que tomaram recursos no exterior vão pagar caro, assim como os importadores de insumos agrícolas, remédios etc. Sem as atuais crises entre Executivo e STF e brigas no Congresso o real poderia voltar em 2021 a um patamar mais civilizado de R$ 4,50, estimam os banqueiros.