Apesar das declarações do líder do PSD, Rogério Rosso (DF), contra a manutenção do Centrão, a verdade é que o bloco ainda tem potencial para atrapalhar a gestão do novo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Em sua entrevista ao programa “Roda Viva” na madrugada de terça-feira, Rodrigo Maia deixou claro ter-se afastado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) quando este o preteriu e trabalhou pela nomeação do atual líder do governo na Casa, André Moura (PSC-SE), um dos nomes fortes do Centrão.
O Centrão, como se sabe, é o maior bloco parlamentar do Congresso, formado por 12 partidos liderados por PP, PR, PSD e PTB. Foi criado por iniciativa de Eduardo Cunha para aumentar seu cacife e foçar o governo a dividir com legendas médias e pequenas o poder concentrado nas legendas tradicionais, como PSDB, DEM e PMDB.
Com a provável cassação de Eduardo Cunha, a expectativa é de que o Centrão entre em crise e até se desfaça. Mas até lá muita água deve rolar no espelho d’água do Congresso.
A encrenca começa na definição da data de votação da cassação de Eduardo Cunha. Rodrigo Maia declarou que pretende colocar em pauta, no plenário, entre os dias 8 e 12 de agosto. Ou seja, na segunda semana do primeiro mês após o recesso. A primeira semana deverá ser esvaziada pelas convenções municipais dos partidos para escolha de seus candidatos a prefeito.
O líder do PTB, Jovair Arantes já foi logo avisando que não sabe se haverá quorum também na segunda semana. E a falta de quorum, segundo o próprio Rodrigo Maia, pode fazer com que ele não marque a votação. Daí porque o novo presidente da Câmara quer esperar o fim do recesso para decidir. Quer ver se consegue, como o apoio da oposição e dos líderes dos partidos tradicionais se contrapor ao corpo mole do Centrão.
Outra decisão de Rodrigo Maia que está desagradando ao Centrão: a paralisação do projeto do ParlaShopping.
Trata-se do apelido dado ao novo anexo da Câmara prometido por Eduardo Cunha, com novos gabinetes para os deputados e que seria construído pela iniciativa privada, com custo de R$ 1 bilhão. Não houve interesse empresarial e o primeiro-secretário da Mesa Diretora, deputado Beto Mansur (PRB-SP), defendia que fosse então com recursos próprios da Câmara.
Mas o presidente da Câmara afirma quer não é hora de gastança.
Beto Mansur também é do Centrão, assim como Jovair Arantes. E ambos sonhavam (ou sonham ainda) assumir a presidência da Câmara. Não querem bater de frente agora, mas não estão gostando nem um pouco de ver Rodrigo Maia no cargo.
Eles e os demais líderes do Centrão ainda não estão convencidos — como Rogério Rosso — de que ganharão alguma coisa com o fim do bloco. E, se continuarem unidos, será para resistir ao mandato tampão de Rodrigo Maia.
O Palácio do Planalto é quem terá força para decidir esse impasse. Tudo indica que jogará a favor de Maia e dos partidos tradicionais. Mas isso é para depois da votação do impeachment no Senado. Até lá, o governo vai evitar marolas na sua base parlamentar.