O ministro da Economia, Paulo Guedes, ocupou bons espaços no Fórum Econômico Mundial de 2020 ao falar com potenciais investidores no Brasil. Porém, só o tempo dirá se de fato somos a bola da vez do capitalismo internacional.
Guedes falou longamente em inglês a uma plateia de atentos homens de negócios, ativistas ambientais e economistas não só sobre o ajuste fiscal para reduzir o déficit primário do Brasil, mas também sobre a tendência da economia mundial. Ele também abordou a relevância dos blocos econômicos com moeda própria, como o euro, a importância no futuro da moeda chinesa e o surgimento de um moeda única na América do Sul para expressar o potencial econômico da região.
O dólar, principal moeda do mundo, quando é utilizada pelos Estados Unidos para fazer ajustes na sua política monetária, acaba trazendo consequência para diversos outros países. Ao responder a este tipo de indagação, entre outros assuntos de macroeconomia mundial, Guedes deve ter ganho pontos para este tipo de plateia especializada.
Civis x militares
A dúvida que ficou foi sua explicação para a grave situação fiscal e de estagnação da economia do Brasil. Guedes atribuiu o a elevação do gasto público equivalente a 18% do Produto Interno Bruto (PIB) nos governos militares para os atuais 45% dos governos civis a causas das distorções na economia, como inflação e baixo crescimento. “O que vimos com essa expansão incontrolável de gastos públicos é corrupção no sistema democrático e a estagnação econômica”, apontou.
A consequência do baixo crescimento e o aumento das despesas da máquina pública fizeram com que a dívida pública da época dos militares subisse de 20% do PIB para os atuais 80%.
O que chamou a atenção foram estes parâmetros de comparação adotados pelo ministro da Economia sobre os períodos que o País foi governado por militares e civis. Será que este tipo de comparação contribuirá para algum investidor, preocupado com a sustentabilidade da economia mundial, tomar sua decisão de investir em nosso País? Acredito que não.
Guedes poderia ter evitado ainda atribuir a pobreza as causas da degradação do meio ambiente, assim como o anúncio do aumento de “impostos do pecado”, aplicado sobre cigarros e bebidas, sem ter combinado com o presidente da República, Jair Bolsonaro – quem, pouco depois, negou a majoração de tributos.
De qualquer forma, o ministro deixou uma mensagem otimista em Davos de que a economia do Brasil deve crescer este ano em torno de 2,5%, no ano que vem 3%, e, em 2022, em período de eleições presidenciais, em torno de 4%. Prometeu aos investidores zerar o déficit primário nos próximos dois anos, coisa que já tinha prometido quando assumiu a pasta, e mandou um recado claro que taxas de juros continuarão baixas para estimular a atividade da economia.