Temer faz que não, mas será decisivo na sucessão de Eduardo Cunha

Michel Temer recebido com aplausos em sua primeira cerimônia como Presidente no Palácio do Planalto. Foto Orlando Brito

Pouco antes de assumir o cargo de presidente em exercício da República, Michel Temer já discutia com os deputados aliados cenários futuros. Um evento já estava na agenda, a sucessão do então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Agora ou em 1º de fevereiro de 2017, quando terminaria seu mandato se não renunciasse.

Um dos deputados que Temer sondou foi Heráclito Fortes (PSB-PI). “Você sabe, Heráclito, que o considero um nome capaz de presidir a Câmara”, disse Michel Temer.

Heráclito, que hoje é um dos pré-candidatos, respondeu: “Ainda é cedo. Mas gostaria de lhe contar uma história.” E relatou como foi a escolha de Luiz Eduardo Magalhães (PFL-BA), para presidir a Câmara em 1995.

Inocêncio de Oliveira (PFL-PE) comandava a Casa desde 1993 e era um fortíssimo candidato à reeleição. Durante um jantar com a cúpula do PFL e do PSDB, o recém-eleito presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, aproveitou a oportunidade e sentenciou: “Sabe, Luís Eduardo, eu gostaria muito que você fosse o nosso presidente da Câmara.”

“Pois bem, presidente Michel. o Inocêncio engoliu em seco, virou líder do PFL, e o Luís Eduardo foi eleito para o comando da Câmara”, arrematou Heráclito. Em outras palavras: o presidente da República é decisivo na escolha do presidente da Câmara, quando tem uma base parlamentar razoável.

Foi o caso de Fernando Henrique Cardoso após o sucesso do Plano Real. Não foi o caso de Dilma Rousseff, na sua reeleição por um resultado apertado para o governo, com a oposição fortalecida já falando em impeachment e o PMDB rachado. Ela tentou eleger o petista Arlindo Chinaglia (SP), mas o peemedebista Eduardo Cunha atropelou o seu candidato.

Hoje o Palácio do Planalto usa o desastre de Dilma para dizer que não quer se intrometer na disputa pela sucessão na Câmara. Mas Temer sabe que sua base parlamentar está menos desarrumada do que a da presidente afastada.

Tanto que bastou Michel Temer sugerir no encontro com Eduardo Cunha — conforme relatou em entrevista à revista Veja — que este “devia meditar” sobre a renúncia para o deputado desistir do comando da Câmara.

Agora Heráclito e todos os pré-candidatos governistas — e são muitos! — à sucessão de Cunha estão em disputa pela unção do Palácio do Planalto. Publicamente, Michel Temer tem que dizer que não vai se envolver. Mas, na prática, já se envolveu.

“O Cunha não acordou decidindo renunciar. Aquilo foi meticulosamente conversado com o Palácio. Num dia (quarta-feira) o Centrão derrota o governo na votação da urgência para o projeto de renegociaçao das dívidas dos estados, no outro o Cunha renuncia, depois de dizer que nunca o faria. Desconfio que eles deram o recado e já conseguiram o que queriam do Palácio” , conta reservadamente outro pré-candidato à sucessão de Cunha, já no aeroporto de volta a seu estado e se dando por derrotado.

 

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