Como entender que um governo que defende o equilíbrio fiscal como um dos fundamentos da economia faça planejamento de déficit público para o futuro sem se preocupar em reduzir despesas obrigatórias e benefícios fiscais?
É razoável que a equipe econômica de Henrique Meirelles, ao reconhecer e contabilizar os gastos que estavam escondidos embaixo do tapete e das pedaladas fiscais do governo anterior, apresente à sociedade o rombo de R$ 170,5 bilhões em 2016. Mas o que fica meio estranho é a decisão do governo Temer de se acomodar a este patamar de despesas em 2017, com praticamente o mesmo déficit primário.
Henrique Meirelles, ao contrário do que se esperava, não veio para fazer cortes nos gastos obrigatórios, aqueles que representam mais de 90% das despesas da União. Sequer deu sinal de que vai reduzir as desonerações fiscais em benefícios de grupos econômicos.
E o pior é que incluiu uma regra de correção nominal das despesas pela inflação do ano anterior, que em 2017 deve ser da ordem de 7%, superior à estimativa de aumento das receitas de 5%.
A manutenção desta política fiscal dá continuidade a um galopante endividamento público, devido às elevadas taxas de juros, o que significa mais combustível para alimentar a inflação.
É surpreendente: até aqui, em relação às despesas discricionárias, a equipe da presidente afastada Dilma Rousseff, tinha um controle de gastos muito maior do que o governo de Michel Temer.