10É impressionante o poder de premonição que uma fotografia jornalística contém. Sempre digo que, na verdade, elas têm maior capacidade de se referir ao futuro que simplesmente retratar o presente, de meramente captar um momento com frieza. Basta “ler” cada imagem e vamos perceber isto quase sempre. Quem poderia imaginar que essa cena tão constante nas cerimônias – o contumaz aperto de mão de alguém que chega a um lugar – fosse a antevisão de uma situação tão real anos depois.
Cobrindo a seara do poder desde muitos anos, estou sempre me deparando com fotografias com idêntica carga de premonição. O processo digital permite que vejamos o resultado de uma imagem no mesmo instante em que fazemos o clic. Foi o que aconteceu nesse dia, quando a presidente Dilma Rousseff chegava, acompanhada da então ministra Gleisi Hoffmann, do Gabinete Civil, para a cerimônia de lançamento do projeto de modernização e ampliação dos portos brasileiros, no segundo andar do Palácio do Planalto.
Ao entrar no cenário da festa, Dilma estendeu a mão para seu vice, Michel Temer, que aguardava o início do evento. Reparei no display da minha câmara e vi que, embora a imagem não viesse a condizer diretamente com a ocasião, merecia atenção. Me “avisava” algo inimaginável ou no mínimo surpreendente.
Seja o que for, aí está uma fotografia que viria espelhar a pouca afinidade e sintonia dos dois personagens principais que nela aparecem. Evidentemente, a foto é produto do acaso e não propriamente da intenção deliberada em retratá-los nessa situação. Decorre daquilo que muitos chamamos de imponderável. Pensando bem, é demais: Dilma estende a mão para Michel que, de olhos fechados, mostra-se indiferente. Isto foi em 3 de julho de 2013
Orlando Brito