Esta semana a prisão do ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), decretada durante a sétima fase da Operação Calvário, batizada de Juízo Final, foi noticiada pela imprensa nacional. Mais que um caso de corrupção, esse fato revela que a atuação da Lava Jato não inibiu o saque aos cofres públicos nos estados, mesmo durante o auge da operação que mudou paradigmas na luta contra a corrupção no país.
Apesar da prisão e condenação de políticos e empresários graúdos pela Lava Jato, os esquemas de corrupção e desvio de recursos montados por governadores e prefeitos em estados e municípios continuam em atividade. Na Paraíba, o ex-governador foi flagrado cobrando informações sobre a distribuição dos frutos da corrupção aos agentes públicos, sem demonstrar qualquer preocupação com as consequências.
De acordo com o Ministério Público, foram desviados R$ 134,2 milhões de recursos da saúde e educação. Parece pouco perto dos bilhões desviados da Petrobras, mas num estado pobre como a Paraíba qualquer valor faz muita diferença para população.
O dinheiro, ainda segundo o MP, foi destinado a agentes públicos e ao abastecimento do caixa dois das campanhas eleitorais de 2010, 2014 e 2018. Um ponto em comum tanto nas investigações da Lava Jato, quanto nas operações deflagradas em outros estados.
O caso da Paraíba prova também que o financiamento público não acabou com o caixa dois nas eleições, como propagam os defensores do uso do dinheiro público para bancar as campanhas. Afinal, a legislação que proíbe a doação de empresas e cria o fundo eleitoral com recursos do orçamento da União já estava em vigor na eleição de 2018.
A Operação Calvário é só mais uma entre outras investigações inspiradas na Lava Jato. Entre elas as do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Geral, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e Brasília.
Por enquanto, a mais avançada é a do a do Rio de Janeiro, considerada uma extensão da própria Lava Jato. Comandada pelo juiz da 7ª Vara Federal, Marcelo Bretas, a investigação descobriu um esquema gigantesco de corrupção que já mandou para a cadeia os ex-governadores Luiz Fernando Pezão e Sérgio Cabral, este condenado a mais de 260 anos de prisão.
Já a Lava Jato paulista sofreu um revés esta semana graças a uma decisão do ministro Reynaldo Soares, do STJ, que anulou a condenação de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, a 145 anos de prisão por formação de quadrilha e peculato.
Considerado o operador do PSDB, Paulo Preto, foi acusado pelo MP de desviar R$ 7 milhões das verbas de indenização destinadas a famílias que viviam no traçado do Rodoanel, obra do governo paulista. Aos 70 anos, a anulação da condenação foi um presente de Natal tanto para o condenado quanto para os tucanos implicados.
As investigações na Paraíba continuam e ainda vão fazer muito barulho. Uma equipe do Fantástico, da Rede Globo, já se encontra no estado para mostrar ao Brasil inteiro como funcionou o esquema de corrupção que desviou recursos da saúde e da educação.
É importante que essas operações continuem e sejam amplamente divulgadas pela imprensa. Quem sabe assim, algum dia, elas não sejam mais necessárias.