Nos últimos meses o medo da reeleição de Donald Trump cresceu rapidamente entre diversos grupos, e uma ala de zelosos democratas resolveu trilhar o caminho do processo de impeachment.
Seria ingenuidade acreditar que os democratas estão em campanha para respeitar à constituição. Chega-se, porém, ao postulado de reeleição, apenas cinco presidentes não foram reeleitos: George H.W. Bush (92), Jimmy Carter (80), Gerald Ford (76). Herbert Hoover (32). William Taft (12). Com o atual estado da economia americana, o marido de Melania permanecerá na Casa Branca até janeiro de 2025.
Há enorme e gritante paradoxo entre Washington (DC) e o resto dos Estados Unidos. Cinquenta e três por cento dos americanos não apoiam o processo de impeachment do presidente.
Os democratas e republicanos que estão no poder pretendem, sobretudo, nele permanecer.
A Câmara aprovou o impeachment do presidente por abuso de poder com 230 votos a favor (229 do Partido Democrata e um independente) e 197 contra (195 do Partido Republicano e dois do Partido Democrata). Um democrata e dois republicanos não estiveram presentes na votação.
Ficará registrado na história que Donald Trump tornou-se, com isso, o terceiro presidente a ser a julgado e absolvido pelo senado, a próxima fase desse dramalhão mexicano. Trump está tranquilo porque os republicanos têm o controle da casa. Os anteriores foram os democratas Andrew Johnson, em 1868, e Bill Clinton, em 1998. Os dois foram perdoados pelo senado. É bom frisar que o republicano Richard Nixon renunciou no dia 8 de agosto de 1974, um dia antes da votação.
Entender o fenômeno Trump não é uma tarefa muito fácil.
Nas horas que antecederam a histórica votação, os membros do exército do presidente correram para o plenário para defendê-lo. Por turnos, Trump foi descrito como Jesus antes da crucificação, uma “bruxa” de Salem e um dos muitos americanos comuns cujas vidas foram arruinadas quando o falecido senador Joseph McCarthy, de Wisconsin, os acusou de serem comunistas ou gays. A última parte foi irônica, dado que o polêmico advogado de McCarthy, Roy Cohn, se tornaria mais tarde amigo e consultor de Trump.
“Quando Jesus foi falsamente acusado de traição, Pôncio Pilatos deu a Jesus a oportunidade de enfrentar seus acusadores”, disse o deputado republicano do estado da Geórgia Barry Loudermilk. “Durante esse falso julgamento, Pôncio Pilatos concedeu mais direitos a Jesus do que os democratas concederam a esse presidente nesse processo.”
Parece que o tiro dos democratas pode sair pela culatra. O presidente diz que o impeachment é bom para ele, e não está bravo e, na verdade, acha tudo isso muito engraçado. Embora possa ser verdade, como analisam os seus assessores políticos, que o impeachment despertou e energizou sua base para apoiá-lo com mais força, também ressuscitou os democratas.
Quando Trump diz: “essa coisa da Rússia com Trump e a Rússia é uma história inventada. Esse papo de chantagear o presidente da Ucrânia é ficção “, milhões americanos acreditam nele. Muitos desses cidadãos votaram em Trump por frustração com a política tradicional e contra corrupção de Washington. O impeachment de Trump apenas afirmaria sua suspeita de que os políticos de carreira queriam descartá-lo desde o início do seu mandato. Isso só acrescentaria mais querosene ao fogo da reação populista contra as “elites políticas”.
Nas eleições presidenciais de 2016, quarenta e dois per cento dois eleitores não compareceram às urnas. O cidadão que paga impostos está cansado do político tradicional e dos dinossauros veículos de comunicação.
No ano passado durante o funeral do ex-presidente George Bush pai (conhecido como Poppy ), a respeitada colunista política do jornal The New York Times Maureen Dowd desabafou: “com Poppy, havia decência e cortesia na Casa Branca”.
