Da série “Voltando no tempo”
Estou revendo os meus negativos antigos para reunir fotos que fiz desde quando comecei a trabalhar em jornalismo, em 1966, em um livro no qual pretendo mostrar a trajetória política do Brasil. É um trabalho, intenso, cansativo e minucioso. Mas que, ao mesmo tempo, me traz satisfação e, sobretudo, surpresas, boas recordações.
Nessa semana encontrei essas três raridades e resolvi compartilhá-las com você: as fotos do concurso de Miss Brasil em 22 de junho de 1973. Naquele ano, o espetáculo deixava de ser realizado no Maracanãzinho, no Rio, para ter lugar no recém-inaugurado Ginásio de Esportes Presidente Médici, em Brasília. Embora fosse promovida pelos Diários Associados, a festa merecia cobertura de O Globo, jornal concorrente dos Associados e do qual eu era um jovem fotógrafo.
O festival de formosuras – transmitido pela Rede Tupi, emissora que rivalizava com a Tv Globo – reunia na nova capital brasileira estrelas da moda, como um jovem estilista que se consolidava no hall da fama da costura chamado Clodovil Hernandez. E ainda várias celebridades da época, de São Paulo, Rio, Brasília, de outras capitais e até do Exterior. Um dos nomes mais aplaudidos foi Adalgisa Colombo, dona do cetro da beleza em 1958, quando o Rio de Janeiro era ainda o Distrito Federal e se chamava Estado da Guanabara. Havia também uma profusão de colunistas e jornalistas importantes, fotógrafos de renome, das revistas O Cruzeiro e Manchete.
A primeira fotografia mostra as belas concorrentes em desfile, vestidas de maiô e sapato de salto alto. Lindas e jovens. A vencedora foi a paulista de Sorocaba, Sandra Mara Ferreira, à época com 21 anos. Suas medidas eram 1,77m de altura, 90 de busto, 64 de cintura, 54 de coxa e 24 de tornozelo. A segunda colocada foi a carioca Denise Penteado Costa e a terceira, Florence Alvarenga, de Minas Gerais. Eleita a mais bela, Sandra foi disputar o Miss Universo, em Atenas e ficou entre as 12 finalistas. O eleita foi Margarita Moran, das Filipinas.
O ponto alto da noite no desfile em Brasília, além da apresentação das jovens beldades, foram dois shows. O primeiro, da cantora Eliana Pittman. A morena-sensação não deixou de entoar o samba “Esse mar é Meu”, música considerada espelho da campanha do governo brasileiro de expansão do mar ao limite de 200 milhas a partir do litoral.
Artistas também aplaudidos foi a dupla de baianos Antônio Carlos e Jocafi, revelados no antigo Festival Internacional da Canção. Naquela noite cantaram seus sucessos. Entre as canções, uma que foi anteriormente censurada pelo regime militar: “Você abusou”. Aliás, “Você abusou” é uma das três músicas brasileiras mais conhecidas mundo a fora, assim como “Garota de Ipanema” e “Aquarela do Brasil”, acho.
Hoje, passados 46 anos, a Miss Brasil 1973 Sandra Mara Ferreira Villares, nascida em 1952, é professora de medicina em uma universidade de São Paulo. Eliana Pittman, agora com 74, se diverte dando aulas de música numa escola carioca. Já Antônio Carlos, residentes no Rio, curtem os frutos dos grandes sucessos e fazem apresentações para saudosos fãs.
Não sei se você recorda ou tem conhecimento dessa época. Essas fotos aí não estarão obviamente no meu futuro livro mas, ainda assim, resolvi expô-las aqui. Minha intenção é contribuir um pouco com a memória do nosso País.
Orlando Brito