– Olá, este é mais um podcast IdealPolitik, especialmente para Os Divergentes. Hoje, vamos analisar as consequências da decisão do Supremo Tribunal Federal que proibiu a prisão após condenação em segunda instância e libertou o ex-presidente Lula.
– De partida, as redes sociais e as ruas se polarizam entre o petista e Jair Bolsonaro, e você já tem lado contra o grande inimigo, que, claro, representa um mal para o país. Naturalmente, você integra o exército do bem.
– Não pretendo aqui discutir o conceito de bem e mal, pois eles existem. Bem é aquilo que faz a vida em sentido mais particular e mais geral progredir. Mal é o oposto. Mas, não se confunda, ele pode estar tanto na oposição quanto na situação.
– O que pode acontecer com a soltura de Lula é o espaço do centro ser reduzido pela polarização esquerda x direita, pelo que passará supostas ligações perigosas com o caso Marielle Franco, fantasmas do Foro de SP, a conspiração americanos-mercados, que, juntos, podem levar o país às raias da ruptura institucional. Ou, bem mediadas por pactos que reabilitem Lula, blindem o clã Bolsonaro, desidratem a Lava Jato e mantenham o foco na economia, tal teia de enredos arriscados levem apenas a um democrático ganha-ganha entre as forças políticas para concorrerem nas eleições de 2020 e 2022.
– Bom, agora, você tem basicamente duas escolhas:
– Em uma, você radicaliza contra a esquerda, contra a direita e contra o centro. Esta é a mais fácil, basta fazer o de sempre: conversar com os que concordam com você, ler as informações nos canais de costume apenas para se atualizar das posições da visão política que prefere e se sentir parte de algum grupo.
– Noutra, você aproveita o momento para olhar em seu entorno e ver o que você, sua família, sua comunidade realmente precisam na situação em que o país se encontra. Você se abre, sem pretensão de ganhar a discussão e de ter razão, para escutar parentes, amigos, colegas de trabalho e conhecidos, considerando os argumentos na mesa com sinceridade. Não ignore coisa nenhuma a manifestação dos players políticos. Pelo contrário, escute tudo com atenção plena. Visite os sites aos quais você tem aversão ideológica e enfrente sozinho as suas verdades. Lembre que um líder com 1 milhão de seguidores só existe de fato se estes replicarem o conteúdo dele. Caso não, o líder some. E some porque você é a política, não o líder.
– Ao invés de receber a notícia da soltura de Lula com simpatia ou antipatia, você pode tentar também exercitar a empatia. Saber que pessoas de quem você gosta estão felizes por isso.Tente experimentar a sensação de se por no lugar do petista. Caso seja da outra torcida, experimente reconhecer que, no gesto do presidente Jair Bolsonaro de apagar o vídeo em que aparecia como um leão atacado por hienas do establishment, e pedir desculpas, independentemente dos motivos políticos, foi distensionador. Pode tentar ver se não encontra virtude em Rodrigo Maia e Dias Toffoli que, apesar de todos os óbices que você possa ter a eles, tem se esforçado para que as instituições não se esgarcem ainda mais.
– Ficou banal as pessoas falarem em ditadura, revolução e guerra como se fossem realmente banais. Mas, abstraia as fantasias que vinculam essas coisas à salvação da humanidade. Ditadura, revolução e guerra querem dizer morte, sofrimento e destruição reais. É neste ambiente que você quer viver com seus filhos e quer que as outras pessoas vivam porque o guru tal ou qual disse isso e aquilo? E se você estiver no lado que perder? E se ganhar, acha que será para sempre e não sofrerá os efeitos da revanche quando a sua maré vazar? Quem foi que lhe deu ou ao seu guia a solução para os problemas do mundo?
– São apenas ciclos. Porque não torná-los de felicidade interna bruta e não de violência por produto interno bruto?
– Você se apavora com as chances do Brasil se tornar Venezuela, Bolívia, Chile ou Argentina. Pois saiba, antes, que o pavor dos políticos, que faz com que eles recorram a inúmeros recursos para capturar seu apoio, decorre do medo que todos têm de terminar emparedados pelo povo. O seu estado mínimo ou que tem papel tão essencial na economia servirá para criar condições favoráveis às pessoas ou só para a dança de cadeiras entre quadros políticos?
– Ninguém é vítima da sociedade, nem os políticos, mas do não-despertar individual e coletivo para o fato de que somos todos iguais e só progrediremos juntos. Enquanto isso, as pessoas estão brigando por causas-efeito das quais somos todos vítimas e responsáveis. E tudo por ficções compartilhadas, que vão desde as ideologias e narrativas até o central: percepções filtradas e distorcidas pelo ego de cada um.
– Diante de todas as profecias que preveem o fim do mundo ou uma guerra heroica entre bons e maus com a soltura de Lula, você tem o poder de impor uma realidade alternativa à que os políticos querem criar para os seus projetos. A fórmula para isso é: misture-se com os outros seres humanos.
– No lugar de Maquiavel, você quer por a ética que gostaria de praticar mas não consegue; o autoperdão para a antiética que pratica, que o faz também buscar representação em antiéticos conformados; ou exigir a ética que você é capaz de praticar?
– Time is politics,