Cobrindo o dia-a-dia da chamada seara do poder, um foto-jornalista encontra em sua área de visão situações inteiramente inusitadas, surpreendentes. Foi o que aconteceu nessa terça-feira comigo, por exemplo. Eu passava pelo plenário da Câmara, a caminho do Palácio do Planalto. Ia fotografar a cerimônia de comemoração dos 300 dias de governo de Jair Bolsonaro
Foi quando ouvi e vi na tribuna a deputada Joice Hasselmann em pleno discurso. Achei estranho tantos deputados prestando atenção na palavra de um colega parlamentar em horário do chamado pequeno expediente. Pois bem, a ex-aliada do presidente Jair Messias falava de sua decepção com a família Bolsonaro, de seu afastamento até então inimaginável da liderança do governo, do rompimento de amizade que parecia tão sólida.
Fotos para mim inesperadas. A deputada Joice Hasselmann enxugava as lágrimas enquanto ouvia os apartes de apoio de seus pares. Minutos depois — ao lado do companheiro de front da notícia Dida Sampaio, do Estadão, também presente no lance do plenário da Câmara– já no Planalto, deparei-me com situação também carregada de sentimento. O presidente Jair Bolsonaro, assim como a parlamentar, também ficou comovido e secava com o punho do paletó o resultado de seu pranto que caia dos olhos enquanto ouvia o discurso de seus ministros sobre os feitos de seu governo.
Fiquei, depois, pensando como a tal seara do poder é mesmo repleta de imprevistos. Quem podia imaginar que as relações de dois personagens tão importantes na República fossem terminar em lados opostos, em desafetos. E eu que os havia fotografado dias antes, sorridentes, em total harmonia…