Jabuti não sobe em árvore, e se está lá é porque alguém botou. A ainda mal-contada história da delação de um ex-executivo da Hypermarcas, que teria confessado ter pago, via intermediários, propina de R$ 30 milhões a senadores peemedebistas como Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Braga, está deixando muita gente intrigada. No Senado Federal, a impressão é de que pode haver o dedo de Eduardo Cunha aí.
Em primeiro lugar, porque o caso parece ter saído do nada, sem menção à investigação que teria dado origem a essa delação. Sabe-se que não é Lava Jato, não é Zelotes, não é Acrônimo. Sem qualquer demérito para a reportagem – que cumpriu seu dever de prestar informação sobre uma delação que foi feita – ainda não é possível entender qual é o papel de Nelson Mello, em qual investigação, e como ela se relaciona com as demais. Menciona-se apenas o possível pagamento para obter vantagens no Congresso. Quais? Também não diz.
Por que o onipresente dedo de Cunha na história? Porque entre os intermediários citados por Mello está Lucio Funaro – junto com Milton Lyra – , comprovadamente um sujeito muito ligado ao presidente afastado da Câmara. Porque, também, o próprio Cunha aparece entre os que teriam sido mencionados, mas sem ligação com valores e de forma muito colateral – uma vacina?
Finalmente, porque, a esta altura do campeonato, interessa a Cunha – que viria fazendo ameaças veladas aos colegas peemedebistas – jogar lenha na fogueira que arde no Senado, embaixo de Renan e outros, para desviar o foco da sua. Em Brasília, uma das formas de acalmar uma crise sempre é criar outra.
Há quem diga que, na conversa de domingo à noite no Jaburu, Cunha teria avisado Michel Temer que, caminhando para a cassação na Câmara, estaria com a artilharia pronta para fazer um estrago geral. É possível que já tenha começado a atirar.