Abaixo todas as ditaduras!

“(…) Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada.”

Há controvérsias. Mas creio que o trecho acima é de um poema de Vladimir Maiakovski que deu num outro, do pastor luterano Martin Niemöller, em outro de Bertold Brecht e em outro do brasileiro Eduardo Alves da Costa, entre tantos.

Então vou logo dizendo: não torço por Dilma, nem por Temer; não votei para presidente na última eleição, nem na anterior, nem antes dela… Digo-me um cabra de esquerda, mas também religioso e, antes tudo, avesso a todos os preconceitos.

Esse preâmbulo todo é para lembrar que houve um tempo em que matadores e poderosos não buscavam desafetos dentro dos templos. Respeitavam os templos. E os religiosos tornavam-se hospedeiros de desprotegidos.

Mas as ditaduras e as intolerâncias políticas e religiosas acabaram com este tempo.

Eu, particularmente, sou de uma época em que, contra a ditadura militar, protestávamos sempre que houvesse risco de uma possível invasão ao Congresso ou desrespeito à inviolabilidade dos mandatos parlamentares. Era como se defendêssemos um templo da democracia onde nós, mais frágeis, pudéssemos nos abrigar.

E este templo está institucionalizado pela Constituição.

Mas agora vivemos tempos polêmicos, em que, por justa causa de combate à corrupção — e a políticos e empresários de esquerda e de direita que abusaram de sua força –, o Judicário tornou-se o mais forte de todos os poderes.

Um juiz substituto de primeira instância de São Paulo (Paulo Bueno de Azevedo, da 6ª Vara Criminal) determina a invasão do apartamento de uma senadora, Gleisi Hoffmann (PT-PR), para prender seu marido, Paulo Bernardo, um ex-ministro que tudo indica ser mesmo culpado de alguma coisa mas que está longe de uma condenação em segunda instância que justificasse sua prisão.

A Mesa Diretora do Senado protestou, o presidente do Senado, Rernan Calheiros (PMDB-AL), idem, o líder do PSDB, senador Cassio Cunha Lima (PB), também. Até o presidente em exercício da República, Michel Temer, criticou de forma velada, em entrevista a uma rádio:

“É um fato doloroso. Parece que ele foi detido em frente aos filhos. Quero dizer publicamente que eu quero lamentar o fato. É um problema de natureza jurídica. Aquilo é a residência dela e evidentemente dele também sendo marido. É um problema jurídico, e eu penso que é preciso manter uma harmonia entre o Congresso e o Judiciário. Qualquer desarmonia é uma inconstitucionalidade. Que esse suposto litígio entre o Congresso e o judiciário e a polícia federal logo se defina.”

Mas como a política está um mar de lama e a Operação Lava Jato inclui Renan e seu PMDB, o PSDB de Cassio e tantos outros (até Temer está sendo citado), os protestos caem em descrédito.

Os tempos são de “Todo o poder ao Judiciário!”.

O problema é que poder demais se transforma em ditadura. E ditaduras são ditaduras, sejam de esquerda, de direita, do Judiciário, do Executivo, do Congresso, dos Militares ou das igrejas.

Então: Abaixo todas as ditaduras!

https://youtu.be/SmAiQf5Yx0Q

Deixe seu comentário