Sergio Moro vestiu a camisa do Flamengo e Jair Bolsonaro vestiu a camisa de Moro. O presidente da República levou três dias para apoiar de forma clara seu ministro da Justiça no episódio Vaza Jato, que revelou as conversas impróprias entre o ex-juiz e o procurador chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol. Por quê? O Planalto avalia que sua única estratégia agora é politizar a questão – ainda que, com isso, Bolsonaro vá se abraçar a um Moro enfraquecido para o que der vier. A outra opção, que seria abandonar Moro e deixá-lo fritar no óleo do desgaste, traria sérios arranhões ao discurso anticorrupção.
O presidente foi aconselhado por seu entorno militar – o primeiro a apoiar Moro – a adotar mais uma vez a tática do confronto e assumir o discurso de Moro de que a divulgação das conversas que mostram sua imprópria proximidade com Dallagnol pelo The Intercept faz parte de uma orquestrada operação de ataque à Lava Jato. Ao jogar as coisas nesse terreno, o governo se exime de julgar o comportamento para lá de suspeito de seu ministro quando era juiz e também se coloca sob o suposto ataque dos “corruptos”, que em tese querem acabar com a Lava Jato.
O que está em jogo, neste momento, é saber se essa versão – adotada por parte da mídia – vai colar ou não. Há um esforço, por parte de seus defensores, para “naturalizar” os diálogos impróprios e desviar o foco dos procedimentos internos da Lava Jato para o ataque hacker aos integrantes da força-tarefa. Com isso, tentam escapar às consequências políticas e jurídicas da divulgação dos diálogos. Ou, ao menos, criar um clima contra eventuais desdobramentos. E quais seriam eles?
O principal deles, a liberdade do ex-presidente Lula, que em poucos meses já teria direito a um regime de prisão aberto e, diante das revelações, pode ganhar a qualquer momento um habeas corpus do STF. O governo Bolsonaro, militares à frente, tem tanto medo de ver Lula solto que prefere engolir (e propagar) qualquer explicação esfarrapada para os diálogos impróprios de Moro e Dallagnol na Lava Jato.
Se a greve geral dessa sexta-feira tiver tamanho e impacto, num prenúncio de efervescência social, a situação no governo – que perde agora um personagem militar equilibrado, o general Santos Cruz – ficará mais tensa ainda. As pressões sobre o Supremo serão enormes nos próximos dias. Vão resistir?