Dois dias após a divulgação das possíveis trocas de mensagens entre o procurador da República, Deltan Dallagnol, um dos condutores da Operação Lava Jato, e o ex-juiz Sérgio Moro, pelo site The Intercept Brasil, o tema acabou alimentando um novo acirramento de ânimos entre brasileiros.
De um lado, o PT, a OAB, críticos da Lava Jato e até mesmo representantes da Suprema Corte colocaram sob suspeita a conduta do ex-juiz e atual ministro da Justiça, denunciando a suposta imparcialidade de Moro no julgamento do ex-presidente Lula e, alguns, defendendo seu afastamento do cargo
Do outro, os procuradores à frente da Operação Lava Jato, o vice-presidente Hamilton Mourão, uma parte significativa dos eleitores do atual presidente da República mobilizados nas redes sociais, e, por fim, o próprio Bolsonaro, ainda que sem o entusiasmo habitual, saíram em defesa de Moro.
Surpreendido pela bomba, que definitivamente arranhou sua imagem, Moro tentou demonstrar serenidade.
Primeiro, criticando a ação de hackers que expuseram uma excessiva proximidade entre o ex-juiz e os procuradores da Lava Jato.
Em seguida, minimizou o conteúdo do que foi divulgado, alegando que é comum juiz falar não só com procuradores, bem como com advogados.
Após conversa com Bolsonaro e diante das manifestações de apoio que começou a receber pela internet, Moro sentiu-se confiante para se antecipar à uma articulação de deputados e senadores para convocá-lo.
O ministro acertou sua ida ao Senado na próxima semana para prestar esclarecimentos sobre o episódio.
A oposição, que ameaçava obstruir a votação do pedido de crédito suplementar de R$ 248,9 bilhões, sem o qual o governo não cumpriria a chamada regra de ouro, enquanto Moro não fosse afastado do cargo, acabou desistindo da ação.
Em sessão do Congresso Nacional, o crédito suplementar foi aprovado após o Planalto se comprometer a destinar R$ 1 bilhão para a Educação, R$ 1 bilhão para o Minha Casa, Minha Vida, R$ 550 milhões para as obras de Transposição do São Francisco e R$ 330 milhões para bolsas de estudo do CNPq.
De qualquer forma, o discurso do PT em defesa de Lula, de que ele teria sido vítima de um julgamento político, ganhou força.
Mas como o vazamento das conversas suspeitas entre Moro e Dallagnol também não inocentam Lula dos crimes pelo qual foi condenado, como bem pontuou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em entrevista ao jornalista Tales Faria na última segunda-feira, o jogo segue empatado e o Brasil dividido mais uma vez.