As palavras do ideólogo de direita radicado nos Estados Unidos Olavo de Carvalho trazem desconforto e incômodo desde a posse de Jair Bolsonaro. Tido como guru dos filhos do presidente – Carlos, Eduardo e Flávio Bolsonaro – costumeiramente usa sua página do Twitter para emitir opiniões sobre a atuação de integrantes do governo.
Depois de atacar o vice-presidente Hamilton Mourão, na semana passada Olavo de Carvalho apontou sua bateria para outro alvo importante do Palácio do Planalto: o general-ministro Carlos Alberto Santos Cruz, da Secretaria-Geral da Presidência da República, responsável pelo Secretaria de Comunicação.
Com habitual linguajar ofensivo e expressões de mau gosto e, em muitas ocasiões de baixo calão, Olavo criticou duramente Santos Cruz por uma entrevista na qual o general defendia a necessidade de regras para regulamentar as redes sociais. O vereador carioca Carlos Bolsonaro, aliás, também usou o Twitter para alfinetar o ministro do pai presidente.
Incomodado, Santos Cruz foi estar, no domingo, com Jair Bolsonaro no Palácio Alvorada. Após conversa de uma hora, tudo indica que o presidente conseguiu evitar um possível pedido de demissão. Bom lembrar que o próprio Bolsonaro publicou nota na qual diz que “Em meu Governo a chama da democracia será mantida sem qualquer regulamentação da mídia, aí incluída as sociais. Quem achar o contrário recomendo um estágio na Coréia do Norte ou Cuba”.
Porém, o encontro do general Santos Cruz com o presidente Jair Bolsonaro não estancou a crise.
O general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército, que goza de respeito dos oficiais e atualmente é um dos assessores do também general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança e Institucional, saiu em defesa do amigo Santos Cruz e divulgou nota dizendo que Olavo de Carvalho derrama seus ataques aos militares e às Forças Armadas demonstrando total falta de princípios básicos de educação, de respeito e de um mínimo de humildade e modéstia.
E mais sobre Olavo: Verdadeiro Trotski de direita, não compreende que substituindo uma ideologia pela outra não contribui para a elaboração de uma base de pensamento que promova soluções concretas para os problemas brasileiros. E que Carvalho “age no sentido de acentuar as divergências nacionais no momento em que a sociedade brasileira necessita recuperar a coesão e estruturar um projeto para o País. A escolha dos militares como alvo é compreensível por sua impotência diante da solidez dessas instituições e a incapacidade de compreender os valores e os princípios que as sustentam”.
A reação de Olavo Carvalho veio logo em seguida, carregada de palavras pesadas e de baixo calão. Criticou o general Villas Bôas, dizendo que participou de homenagem a Aldo Rebelo, do PCdoB, quando este ocupou o Ministério da Defesa no governo do PT.
Dessa vez, a reposta ao ideólogo, surgiu em forma de “desagravo e alerta” assinado pelo coronel Sérgio Paulo Muniz Costa, do Clube Militar: Desagravo também aos militares, atingidos pela incontinência verbal que, impune, prospera inexplicavelmente em distintas esferas de poder e de influência no País buscando, pela intimidação e coação, impor ideias e teses radicais que não se coadunam, em absoluto, com a índole da população brasileira crédula nos valores militares que ajudaram a eleger o atual governo.
Nessa segunda-feira, o porta-voz do Palácio do Planalto, general Rego Barros tratou de amenizar a crise em seu briefing diário aos jornalistas. Falou que o governo tem muitos desafios a enfrentar e que tenta cumprir a “árdua missão de consertar o País”. O presidente Jair Bolsonaro, por sua vez, disse que cada um é responsável por aquilo que diz.