Há muita gente hoje que, se estivesse no lugar do general Hamilton Mourão, estaria começando a gostar da situação. É claro que, para qualquer vice, é desconfortável e constrangedor ficar brigado com o titular. Pouco prático, porque coloca o sujeito em saias-justas diversas no cerimonial da Presidência. No caso em questão, porém, pode ser um bom negócio para Mourão, na medida em que vão ficando cada vez mais expostos os desvarios de insensatez de quem o ataca – o filho presidencial 02, Carlos Bolsonaro.
Até pouco tempo atrás, havia quem apontasse, no comportamento midiático de Mourão – sempre dando declarações sensatas e se aproximando de setores do empresariado e da política – sinais de uma conspiração no mínimo para tornar-se palatável aos olhos do establishment como hipotético substituto de Jair Bolsonaro.
O tempo foi passando e a questão não é mais essa. Atacado abertamente nos tuítes de Carlos e do sempre guru da família Olavo de Carvalho, Mourão, de conspirador, vai passando à vítima. Não há qualquer observador de bom senso que não veja a insensatez de afirmações como a de que Mourão teria algum “alinhamento” ao ex-deputado Jean Wyllys apenas porque lamentou sua saída do país sob a alegação de que aqui correria riscos.
Ou então na tentativa de passar a ideia de que o então candidato a vice teria acusado o então candidato Bolsonaro de “vitimizar-se” no dia em que sofreu uma facada. Todo mundo sabe que isso não aconteceu.
Então, se tudo ainda não se transformou num grande hospício, a percepção da maioria será a de que não é Mourão o maior louco da instituição Planalto. Com todos os defeitos que possa ter, inclusive o discurso troglodita do passado, o vice, ao ser colocado no paredão da ala familiar-ideológica do governo pode é estar caminhando a passos mais rápidos para chegar onde todo mundo acha que ele quer ir mesmo.