As turbulências políticas na semana em que as igrejas cristãs celebram a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, conhecida como Semana Santa, devem continuar depois do feriado. Nessa semana novos focos de incêndio devem surgir no Senado. O pavio foi aceso pela decisão do ministro Alexandre de Moraes- revogada na quinta à noite depois de péssima repercussão – censurando matéria publicada nos sites O Antagonista e Crusoé.
O inquérito aberto pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Tóffoli, para investigar ameaças à Corte e aos seus integrantes, já não vinha sendo bem digerido por alguns senadores, que defendiam a investigação de atos de ministros dos tribunais superiores por meio de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Mesmo assim as coisas pareciam estar contornadas.
O enterro da CPI da Lava Toga, ainda sem data para ser decidido pelo plenário do Senado, já era dado como certo pelos 29 senadores que defendem a investigação. Com a censura imposta à imprensa, os apoiadores da CPI ganharam novo fôlego e novos argumentos.
O senador Alessandro Vieira, autor do requerimento da CPI da Lava Toga, já anunciou que pretende apresentar à mesa do Senado, no início da próxima semana, um pedido de impeachment dos ministros Dias Tóffoli e Alexandre de Moraes por “crime de responsabilidade e abuso do direito”. Também apoiam o pedido os senadores Randolfe Rodrigues, Lasier Martins e Jorge Kajuru, entre outros.
Dificilmente o impeachment deve sair da gaveta do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que já coleciona dois outros requerimentos semelhantes contra o ministro Gilmar Mendes. Um apresentado em março pelo advogado Modesto Carvalhosa, e um segundo protocolado pelo senador Marcos do Val, logo após a Comissão de Justiça do Senado decidir pela não instalação da CPI da Lava Toga.
De qualquer forma o pedido apoiado por vários senadores cria um constrangimento ao presidente do Senado, que não vai querer encarar uma disputa contra ministros do Supremo. E para segurar a pressão deve contar com o apoio de senadores como Renan Calheiros, seu principal adversário na disputa pela presidência do Senado.
Renan e sua turma sabem que, como explicou aqui em Os Divergentes o colega Andrei Meireles, no texto A paranoia da hora: a turma de Moro conspira contra Tofolli e Maia, a briga do STF é contra a turma da Lava Jato e não apenas contra a propagação de calunias contra ministros do Supremo.
Tanto é assim que na ultima quinta-feira (18), em meio a toda confusão provocada pela censura à imprensa, Renan escreveu em seu twitter a seguinte mensagem: “O Ministério Público Federal declara que o STF ultrapassa os limites de sua atuação ao agir como investigador e juiz ao mesmo tempo. Esquece que Sérgio Moro foi o investigador e o senteciador do Lula. Para isso, se valeu de delações sem prova, quebrou sigilos e vazou informações seletivamente”.
Se segurar os pedidos de impeachment dos ministros, assim como fez com a CPI, Alcolumbre vai perder apoio de boa parte colegas que o ajudaram a se eleger presidente do Senado, se aproximando da turma que apoiava Renan. Agora é ver até onde ele vai aguentar a pressão.