O Chanceler enviou, ontem, dia 15, a todos os embaixadores no exterior, uma circular instruindo-os a denunciar o “apoio diplomático e operacional” que, segundo ele, o governo de Cuba tem dado a Nicolás Maduro, na Venezuela.
A instrução informa que o Brasil e os EUA decidiram unir-se para, de forma coordenada, “condenar o apoio militar e de inteligência oferecido por Havana à sustentação de Nicolás Maduro no poder.”
Araújo instrui os embaixadores a contatarem os governos junto aos quais são credenciados, para informar-lhes que Maduro recebe “proteção direta” de “conselheiros militares e de serviço de inteligência cubanos, em vários níveis”. O Chanceler acredita que “uma campanha internacional de pressão diplomática sobre Cuba poderá contribuir para a cessação do auxílio de Havana a Caracas.
Araújo determina que os embaixadores brasileiros deverão “instar” as autoridades estrangeiras a “condenar, com veemência, o protagonismo de Cuba no prolongamento da crise venezuelana”, e diz que essa condenação deve ser feita “por meio de declarações em foros regionais e multilaterais – e mesmo em tratativas diretas com o governo cubano.”
No final, determina que os embaixadores deverão cumprir essas instruções “em coordenação” com a embaixada dos EUA em cada capital, embora a circular indique que “as gestões não devem ser necessariamente conjuntas”.
Muitos dos destinatários da circular estão pasmos e aturdidos, principalmente pela ausência de um estilo diplomático adequado. Para esses diplomatas, apresentar a posição do Brasil sobre a influência cubana na Venezuela é algo cabível.
Pedir, com muita diplomacia, a adesão de um governo estrangeiro à posição brasileira, é um disparate – embora aceitável em casos extremos. Mas “instar” um governo estrangeiro a “condenar” Cuba “com veemência” é uma completa loucura. Só mesmo um despreparado que hoje ocupa o cargo de Ministro das Relações Exteriores poderia imaginar isso.
Mesmo aqueles que cumpririam, de bom grado, essa instrução, reclamam da forma como ela foi redigida. Esses embaixadores tem a certeza que o texto não foi escrito no Itamaraty.
As hipóteses variam: o documento pode ter saído do gabinete do deputado Eduardo Bolsonaro; da assessoria internacional da presidência da República, da cabeça de Olavo de Carvalho. Ou mesmo da CIA.
Eles consideram que a circular é inepta, ao apresentar uma denúncia repleta de generalidades, sem oferecer qualquer detalhe (fatos, nomes, datas, lugares).
Mesmo os embaixadores mais conservadores e convictos da “nefasta” influência cubana na Venezuela gostariam de receber um texto mais consistente.
Uma retórica vazia serve apenas para enfraquecer o argumento brasileiro – pensam eles.