Líder da Minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede) é um dos principais apoiadores da CPI da Lava Toga. Em seu segundo mandato como senador, conhece bem os artifícios regimentais usados para enterrar as comissões de investigação que não interessam a maioria. Para garantir apoio popular à CPI, o senador pelo Amapá vem trabalhando intensamente nas redes sociais.
Com mais de 200 mil seguidores somente em uma das redes, Randolfe reuniu na sua casa na última quinta-feira (21) o autor do requerimento de criação da CPI, senador Alessandro Vieira (PPS), e o deputado Luiz Flávio Gomes (PSB), para uma live no Facebook. Foram quase 40 minutos respondendo a questões dos internautas sobre a importância da comissão para investigar o que chamaram de “ativismo judicial” dos ministros dos tribunais superiores.
Em entrevista exclusiva a Os Divergentes Randolfe disse que “a instalação da CPI é irreversível” e acredita que até a próxima terça-feira o requerimento seja lido em plenário, apesar da pressão para que pelo menos três senadores retirem as assinaturas do requerimento.
Randolfe falou ainda sobre a reforma da previdência e disse que o próprio governo é quem está atrapalhando tudo. Na avaliação do senador, o governo está desgastando o seu patrimônio político e se continuar assim, em três meses não terá condições de aprovar nenhuma reforma. A seguir a integra da entrevista.
Os Divergentes – Mais um ex-presidente foi preso por corrupção. Como o Sr avalia essa situação?
Randolfe Rodrigues – A prisão do ex-presidente Michel Temer representa um marco no combate à impunidade no Brasil. É importante que se tenha um sentimento na sociedade brasileira de que não são somente pobres ou aqueles que moram nas favelas podem ser objetos da força da lei. Os crimes cometidos pelo presidente Michel Temer, e por quem o acompanhava no Palácio do Planalto, eram gravíssimos. O material probatório é enorme. Tanto é que ele foi objeto de dois pedidos de afastamento movidos pela procuradoria-geral da República e negados pela Câmara dos Deputados. Então considerava que essa prisão era iminente.
A prisão de temer esvazia o discurso do PT de que o ex-presidente Lula é um perseguido político?
Randolfe Rodrigues – Acho que é uma contribuição no combate à corrupção. É uma demonstração de que não é contra A ou contra B, é contra quem comete delito. Mais que isso: é um elemento material concreto para evitar que se avancem no parlamento medidas que procurem inibir as instituições de combate à corrupção e a atuação de combate à corrupção.
Os Divergentes – E por falar em combate a corrupção, a CPI da Lava Toga vem sofrendo muita pressão para não ser instalada. Até agora o requerimento não foi lido em plenário. Como vê essas manobras?
Randolfe Rodrigues – Acho até terça-feira (26) será um tempo razoável para o presidente Davi [Alcolumbre] fazer a checagem das assinaturas. Veja, tendo 28 assinaturas, tendo 29, não tem motivo para não ter a instalação da CPI. Eu acredito que nenhum colega vai querer retirar [a assinatura do requerimento de criação da Comissão]. A CPI da Lava Toga para mim é irreversível.
Os Divergentes – O presidente argumenta que não tem um fato definido como determina a Constituição.
Randolfe Rodrigues – Fato definido tem, são 13 apresentados. E o que não for fato definido pode ser retirado na analise preliminar. O primeiro requisito para ter a CPI é que ela é um direito da minoria. E ela cumpriu esse requisito.
Os Divergentes – O Sr não teme que ela acabe virando uma CPI esvaziada e não apresente nenhum resultado como já ocorreu em outras CPIs?
Sempre tem o risco. A CPI é um instrumento que o parlamento tem para proceder a uma investigação. Não acredito que o parlamento queira assim proceder. Espero que os colegas percebam que esta Casa aqui teve uma renovação de dois terços e existe um acompanhamento e uma fiscalização da sociedade hoje.
Os Divergentes – O governo parece que não conseguiu se articular para votar a reforma da previdência, que eles consideram essencial para a estabilidade econômica. Enquanto isso foi criada uma frente contrária ao projeto que já conta com 171 deputados e 27 senadores.
Randolfe Rodrigues – O que tá atrapalhando a reforma da previdência é o próprio governo. Eles encaminharam pra cá uma reforma dos militares que não é tão radical e draconiana quanto à proposta de reforma relacionada a todos os demais. Tem pesos e medidas diferentes. É inaceitável passar um programa de progressão em relação aos militares e nós, por outro lado, retirarmos na prática o beneficio de prestação continuada dos mais pobres. O governo que tá se atrapalhando. O governo, ao se atrapalhar, não consegue estabelecer a maioria.
Os Divergentes – É essa sua avaliação do governo como um todo, de que ele está atrapalhado?
Randolfe Rodrigues – O governo está totalmente atrapalhado e está perdendo o patrimônio político eleitoral, como mostrou pesquisa recente do Ibope. Daqui a três meses, se continuar nessa batida, ele vai ter uma avaliação negativa maior do que uma avaliação positiva e eu acho que não terá condições políticas de apresentar qualquer reforma. É um governo que está envelhecendo muito rápido.
Os Divergentes – A fusão da Rede com o PPS foi descartada? O que o partido pretende fazer?
Nós não descartamos a fusão. Nós suspendemos a possibilidade da fusão por conta de não avançarmos nas negociações com o PPS. Nós vamos ter uma reunião no final deste mês e tem outras possibilidades que vamos debater. Não precisamos ter pressa pra isso. Nós não vamos decretar o fim de um partido que se propôs a hackear o sistema político só porque uma circunstância burocrática não ocorreu, que foi a superação da cláusula de barreira.
Os Divergentes – A Marina Silva desidratou na última eleição. A Rede vai insistir em mais uma candidatura dela à presidência da República?
Randolfe Rodrigues – Independente de resultado eleitoral a Marina é uma referência política. Fundadora do nosso partido. Ela espelha o ideário que nós pensamos de sustentabilidade com ética na política. Em qualquer circunstancia ela continuará como um quadro importante e fundamental de decisão nossa. Então a Rede não tem nenhuma mudança de planos sobre o caminho a seguir.