Dia desses, na sala de espera de um ministério, enquanto aguardavam ser atendidos, dois deputados ligados ao agronegócio conversavam sobre a situação do governo. Estavam impressionados com o que está acontecendo.
“Todas as crises que o governo teve até agora foram criadas internamente. Eles mesmos criaram os problemas”, diagnosticou um deputado eleito por São Paulo. “Nunca vi nada igual. Eles arrumam briga com tudo e com todos”, endossou seu colega mineiro.
Nem por serem da Frente Parlamentar da Agricultura, tratada a pão de ló pelo governo, tinha uma visão menos crítica do bate cabeça no entorno do presidente Jair Bolsonaro. Na articulação política, por exemplo, estavam perplexos que, com pouco mais de três de governo, o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, esteja tão desgastado. Sem força para coordenar a difícil aprovação da agenda prioritária do governo, como a reforma da Previdência.
Conversa vai, conversa vem, fizeram uma revelação curiosa: o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, só conseguiu ter uma conversa realmente séria com Bolsonaro no encontro que tiveram no Palácio da Alvorada, no sábado (9). Fez várias tentativas de aproximação, em busca de um encontro a sós, sem nenhum sucesso. Ali no Alvorada, pela primeira vez, trataram de maneira efetiva sobre a tramitação na Câmara da reforma da Previdência.
O mais espantoso é que um dos deputados atribuiu o pé atrás de Bolsonaro a uma questão paroquial no Rio de Janeiro. Disse ele que os filhos com atuação política no Rio de Janeiro enxergam Rodrigo Maia como um um concorrente e não um aliado. Na ótica miúda do clã, o horizonte é a eleição para a Prefeitura do Rio, etapa importante para a sucessão no governo do Estado.
Foi esse joguinho familiar que, por algum tempo, impediu a conversa decisiva para destravar a tramitação da reforma da Previdência. De acordo com um dos deputados, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, teve que entrar no circuito e abrir o caminho para o encontro de Maia com Bolsonaro.
Em uma hora de conversa, Rodrigo Maia conseguiu o aval para costurar a tramitação da reforma da Previdência na Câmara. Conhecedor da máxima de que em poder não existe espaço vazio, Maia, em uma só tacada, superou a desconfiança de Bolsonaro e preencheu o vácuo da (des)articulação política no Planalto.
Uma semana depois, em sua residência oficial, Rodrigo Maia já promoveu o primeiro encontro entre os presidentes dos três poderes – Senado, Davi Alcolumbre, STF, Dias Toffolli, e Bolsonaro – para segundo ele, “afinar o discurso”. Com essa iniciativa ele passa a ser visto, tanto pelos políticos quanto pelo mercado, como o principal personagem capaz de garantir a aprovação das reformas capazes de alavancar a economia.
A força de Rodrigo Maia na Câmara se equilibra em sua capacidade de circular com desenvoltura entre correntes governistas e de oposição e ser porta-voz das reivindicações dos deputados. Com tal cacife, pode facilitar a vida do governo na Câmara.
Evidente que isso terá um preço em cargos, verbas etc…