Triste falar da morte de quem quer que seja. Independentemente de sua trajetória política. Mais ainda quando se trata de personagem importante da história do país e a quem você conheceu no convívio diário da cobertura do poder, o que é o meu caso em relação a Jarbas Passarinho, falecido no domingo pela manhã, em decorrência de problemas da saúde agravada pelos 96 anos de idade.
Passarinho foi mesmo figura importante da história do Brasil nas décadas de 1960 a 1990. Coronel do Exército, da arma de Artilharia, assumiu o governo do Pará, assim que a revolução de 1964, se instalou após destituir o presidente João Goulart. Nos governos miliares foi ministro do Trabalho, da Educação e da Previdência Social. Já no governo Collor, com o país no curso da redemocratização, foi o titular da pasta da Justiça.
Nasceu em Xapuri, no Acre, mas cresceu do Pará. Exerceu três mandatos de senador pela Arena e pelo PDS, partidos que davam apoio aos governos do regime militar no Congresso. Nesse período conseguiu, ao lado de Petrônio Portela, José Sarney e Magalhães Pinto, equilibrar as divergências partidárias e foi protagonista de memoráveis debates na tribuna do Senado, com grandes nomes da oposição naquela época em que o Brasil buscava deixar para trás os anos sombrios que duraram de 1964 a 1985: Teotônio Vilela, Tancredo Neves, Franco Montoro, Pedro Simon, Saturnino Braga, entre outros, mas, sobretudo, Paulo Brossard.
Conta-se que na reunião ministerial, presidida pelo marechal Costa e Silva, em 1968, aquela em que se decidiu pela edição do AI-5 (ato institucional que interferiu gravemente nas liberdades democráticas, instalou a censura, cassou mandatos, proibiu inclusive reunião de quaisquer tipo e ainda fechou o Congresso), Passarinho teria dito uma frase que marcou sua história. Um dos senhores sentados à mesa, questionou sobre a falta de escrúpulos de tão violento ato. E ele: – Às favas com os escrúpulos!
Orlando Brito