A diplomacia de Bolsonaro não é um fracasso

O presidente Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes - Foto Orlando Brito

Para se analisar o êxito de um projeto há que se considerar indicadores. Elaborados por quem o conduz.

Um wishful thinking ronda a avaliação da política externa do governo Bolsonaro. Supostamente exótica, ela envergonharia o Brasil no mundo.

Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil

Oras, desde que tomou posse o novo chanceler Ernesto Araújo anunciou sua linha, não poucas vezes acompanhado de vozes da economia: contraponto frontal ao globalismo. Este, sim, existe. Foi o acordo das principais forças da esquerda social-democrata e da direita liberal para reorganizar o mundo após o fim da URSS – democracia e agenda econômicas liberais, e, antes, um pacto entre socialistas, comunistas e liberais vencedores da 2ª Guerra, de onde nasceu a ONU. Prenhe de “marxismo cultural”.

Qual o que? Ninguém pode negar a influência das ideias de Marx e o peso existencial da União Soviética na construção, por exemplo, da declaração dos Direitos Humanos. Filosoficamente, o marxismo influenciou pesquisadores e movimentos sociais por quase cem anos, que academicamente se mesclaram a liberais nas duas sínteses.

O presidente Nicolas Maduro

Israel é entusiasta da transferência de embaixada para Jerusalém, Trump felicita Bolsonaro sempre que pode, 12 dos 13 países do Grupo de Lima não reconheceram o novo mandato de Nicolás Maduro (assim como a OEA), a Colômbia sugeriu abertamente o fim da Unasul e sua substituição por um bloco de países afins em abordagem ideológica, o Prosur. A China tem, reiteradamente, alertado o Brasil sobre declarações hostis, evidentemente preocupada.

Em outras palavras, a chancelaria, que teve coragem de alterar o critério de indicações de carreira para certos cargos de comando no Itamaraty para poder deslanchar, tem mostrado, outrossim, é força política e prestígio. Até porque não esconde sua sinergia com o “The Movement”, de Steve Bannon, a “internacional” autodeclarada do populismo da direita radical. O ex-estrategista e ex-conselheiro de Trump, recentemente, anunciou seu plano de pôr abaixo o domínio do Partido Comunista Chinês, aliançado com o bilionário dissidente Guo Wengi. O bolsonarismo já colocou em pé até mesmo uma “cúpula conservadora das Américas”. Com apoio dos EUA? Pouco importa. Na verdade, isso ratifica a percepção de retaguarda.

2018 – O presidente Temer discursa do Forum Econômico de Davos. Foto Beto Barata/PR

O que não dá é querer medir a diplomacia de Araújo por mediar acordos com o Irã, promover BRICS, incentivar Celac etc. Até porque não é desta turma. O que os derrotados na eleição tomam por coisa boa, os vitoriosos reconhecem como “crimes” e não veem o presidente como “entreguista”, mas um protagonista ao lado de Trump. E neste público ninguém acha que o Brasil concorre com os americanos.

Resta saber se a chancelaria conseguirá as contrapartidas no comércio exterior para a economia real. Mas há sinais promissores  pelo menos no eixo de governos em que Bannon atua. E mais, nos com quem planeja atuar após novas rodadas de avanço de sua rede no mundo. Grupos de investidores simpáticos ao novo governo já se articulam para ajudar economicamente e é pouco provável que empresários progressivos (globalistas) deixem de fazer negócios por ideologia, tal como nenhum país “bolivariano” e comunista, do continente ou dos BRICS, impuseram qualquer sanção ao Brasil quando do Impeachment de Rousseff, como imaginaram alguns opositores da deposição de Dilma.

 

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