Jair Bolsonaro e Paulo Guedes fizeram nesta manhã o que esperavam dez entre dez observadores da política de Brasília. Aproveitaram a posse dos dirigentes dos bancos públicos no Planalto para trocar juras de amizade e harmonia. A verdade é que Bolsonaro recuou, ao dar a entender que não vai mais ficar falando de economia ao léu. Afinal, ele sabe que, hoje, precisa mais de Guedes do que vice-versa.
Uma semana de governo foi suficiente para mostrar que, embora o eleito tenha sido Bolsonaro, com seus quase 58 milhões de votos, o establishment político, econômico e midiático gosta mesmo é de Guedes, ou do liberalismo que ele representa. Se o estranhamento entre o presidente e seu ministro da Economia perdurasse, levando, no limite, à sua demissão, o maior perdedor seria Bolsonaro, que veria seu governo desmoronar antes de começar.
Guedes iria cuidar da vida e dos arranhões no ego ex-ministerial, mas Bolsonaro perderia o fiador do apoio do PIB e das elites a seu governo, inclusive da mídia – e todo mundo já viu esse filme e sabe o que acontece quando a correia de transmissão chega no Congresso. Por isso, não há outra opção ao presidente, neste momento, a não ser fazer as pazes com seu Posto Ipiranga.
Só que o problema de fundo – que não é exatamente o fato de o presidente sair falando da economia que não entende – continua: a reforma da Previdência sonhada por Guedes não é a de Bolsonaro, e daqui a alguns dias essas duas forças vão se encontrar de novo. Por isso, há quem diga que o problema foi resolvido por agora, mas voltará.
O outro recado de Bolsonaro hoje pela manhã foi de que quem entende de economia é Guedes, mas que ele entende muito mais de política do que o ministro. Para bom entendedor, ficou claro que a equipe pode até fazer a sua proposta de Previdência – mas quem decidirá o que será mandado ao Congresso será Bolsonaro.
Assim viveremos até a próxima rusga.