No último dia 7 de dezembro, Annegret Kramp-Karrenbauer foi eleita a nova presidente da União Democrata-Cristã (CDU), o partido que governou a Alemanha por 49 anos desde 1949, quando o País recuperou parcialmente sua autonomia após a derrota na Segunda Guerra. O novo cargo a credencia como futura chanceler da Alemanha, a quarta maior economia do mundo.
Annegret Kramp-Karrenbauer tem 56 anos, é casada, católica e conservadora nos costumes. Isto não impediu que seu marido deixasse o emprego para cuidar dos três filhos do casal, já que ela nunca mais deixou a política desde que ingressou na CDU aos 19 anos.
Por suas posições e postura semelhantes as da chanceler Angela Merkel, que comandou a CDU por 18 anos, é chamada de Mini-Merkel ou Merkel 2.0. Decidida e pragmática na atuação política, mas moderada no trato.
A boa notícia
Annegret Kramp-Karrenbauer é mulher, cara leitora. Mas não é por isto que ela chegou à liderança de uma sólida agremiação partidária, nascida dos escombros da Segunda Guerra.
Primeiro. A nova líder da CDU teve apoio discreto, mas importante de Angela Merkel, 11 vezes consecutivas a mulher mais poderosa do mundo de acordo com a Forbes.
Segundo. Sua vitória não foi um passeio. Precisou derrotar dois oponentes (homens) em dois turnos de votação.
Terceiro. Soube aproveitar a liderança de Merkel, mas distinguiu-se da líder que pretende se aposentar em 2021.
Apresentou-se como direita moderada, mas nem tanto. De acordo com o The New York Times, soube unir na medida certa preceitos liberais e valores conservadores.
É contra o casamento gay e defende regras mais rígidas contra a imigração ilegal. Kramp-Karrenbauer é a esperança da CDU de recuperar os votos perdidos para a AfD, extrema-direita ascendente.
Os 517 delegados que a escolheram (contra 482 de Friedrich Merz, um advogado milionário) não pensaram em gênero, mas na possibilidade de continuar governando o país mais influente da União Europeia. O amplo apoio à novata foi constatado em pesquisas junto ao eleitorado, revelou The Economist.
O que indica que os eleitores alemães estão interessados nos atributos do candidato. Se homem ou mulher, não importa. Eis a boa notícia.
A má notícia
Caso a novata siga os passos da antecessora e vire chanceler, a mídia de todo o mundo terá que desdobrar a língua para repetir inúmeras vezes o nome da alemã. Esta é a má notícia.
O prezado leitor pode achar que se trata de dificuldade de nativos latinos. Pois engana-se.
O hebdomadário alemão Der Spiegel, brincando com o nome da nova líder, revelou que, mesmo para os compatriotas, a pronúncia provoca um desconforto lingual. Imagine para estrangeiros que acham que sabem a pronúncia da atual chanceler.
Sim, muitos estrangeiros erram a pronúncia de Angela Merkel, um prenome comum em outros idiomas. No entanto, a pronúncia da segunda sílaba (-ge-), de acordo com o vernáculo germânico, é a de um dígrafo oclusivo em português, como guerra ou guepardo.
“O que importa é
o que os políticos fazem com seu poder,
e não se nasceram menino ou menina.”
Mas há alternativas para evitar o nó na língua.
Mathieu von Rohs, periodista da Spiegel, divulgou um tweet onde tenta ensinar como dizer, em inglês, o nome composto. ” Anneh-gret Crump Karen-bower”, arriscou ele.
Há, também, um vídeo no YouTube cujo alvo é destravar línguas presas. Ficou algo como “Ane-gret(i)-cramp-karren-baua”, em português.
Mas a melhor alternativa talvez seja a adotada pela mídia alemã, que fala alemão, mas não quer se complicar. Annegret Kramp-Karrenbauer também é conhecida como AKK.
Se o príncipe saudita MBS, aquele que manda aniquilar jornalistas, e o presidente playboy JFK podem, por que não a líder AKK? No caso de cada um o que importa é o que fazem com seu poder, e não se nasceram menino ou menina.