A noite de sexta-feira 13 de dezembro de 1968 ficou marcada como um dos momentos mais sombrios para a democracia brasileira.
O governo do marechal Costa e Silva decretava o AI-5, Ato Institucional Número Cinco, que fechou o Congresso Nacional, cassou o mandato de vários parlamentares, permitiu a tortura, estabeleceu a censura à imprensa, ao teatro e ao cinema.
E também restringiu várias liberdades, por exemplo, a reunião de pessoas fossem quaisquer os motivos. Com a Câmara e o Senado postos em recesso, Costa e Silva passou a governar com Decretos-Lei.
Eu era um jovem fotógrafo e cobria para o jornal O Globo os assuntos da política. Senti que a notícia estava na Presidência da República, mas seu efeito se mostraria no Congresso. Atravessei o Eixo Monumental, a avenida que separa o Palácio da Câmara e Senado.
No Planalto não havia nenhuma foto a ser feita, a não ser a de um contínuo aborrecido distribuindo aos repórteres as cópias do decreto presidencial.
Eu estava certo. Numa salinha do térreo abarrotada de senhores atônitos, consegui ainda fotografar alguns deputados ao pé do radinho de pilhas ouvindo a leitura da intervenção na Constituição feita pelo então ministro da Justiça, Gama e Silva. Entre eles, estavam os presidentes da Câmara, da Comissão de Justiça e o líder do governo, Zezinho Bonifácio, Djalma Marinho e Geraldo Freyre, além de jornalistas e funcionários.
Logo em seguida, todos tiveram de abandonar o edifício do Congresso. Câmara e Senado Federal só foram reabertos dez meses depois para referendar, em eleição indireta, a escolha do novo presidente da República, o general Garrastazú Médici, no lugar de Costa e Silva, acometido por uma embolia cerebral.
Orlando Brito