Com debate, relevância de Ciro cresce no Twitter

Por Maria Luiza Abbott e Marcelo Stoppa

A chapa do PDT, Ciro Gomes-Kátia Abreu​, ficou em segundo lugar no ranking de relevância e visibilidade (R&V) dos candidatos a presidente no Twitter entre 28 de setembro e 5 de outubro. Sua fatia de R&V chegou a 16,7% do total, 2,5 pontos percentuais acima da obtida pela chapa do PT, Fernando Haddad-Manuela D’Ávila​, que ficou em terceiro, segundo indicam os dados da pesquisa da AJA Solutions. A participação de Ciro no debate da TV Globo, porém, impulsionou fortemente sua relevância no Twitter, que chegou a 30% do total, bem acima da de Haddad, que ficou em pouco mais de 8%.

Ausente do debate, Jair Bolsonaro postou uma entrevista dele para a TV Record nas redes, em competição direta com os demais candidatos na Globo, e sua fatia de R&V no Twitter ficou em 31,9% do total, pouco acima da de Ciro. No ranking da semana, a chapa do PSL, Bolsonaro-General Mourão​, também ficou em 1º, com 33,2% de R&V, praticamente igual à que tinha no começo de setembro, quando chegou a 33,4%. Bolsonaro liderou também em engajamento no Facebook no mês de setembro, segundo a pesquisa da AJA. Seu melhor desempenho, porém, foi no período em que começou a postar imagens e vídeos do hospital, quando se recuperava da cirurgia depois de ter sido atacado com uma faca, dia 6 de setembro.

A análise do Twitter indica que continua forte o uso de robôs e de ações coordenadas – que combinam também ações de apoiadores e cabos eleitorais digitais – na última semana de campanha. Mostra ainda uma intensa interação entre usuários que orbitam as nuvens em torno de Ciro, Haddad, Boulos, Manuela e Kátia (veja mapa de fluxos comunicacionais) e ataques entre seguidores de Bolsonaro e de candidatos dessas nuvens.

A campanha de Bolsonaro nos últimos dias vem buscando reforçar uma mensagem positiva, em que as agressões ficam por conta apenas de seguidores. Antes um crítico do Bolsa Família, o candidato agora promete reforçar o programa. Também volta sua atenção ao Nordeste e garante que desde o início sua atenção esteve voltada para a região.
Já Ciro está procurando animar a militância e reforçar a união, convocando “irmãos e irmãs” a, juntos, mudar o país. Também busca reforçar que o apoio a ele vem crescendo, usando a hashtag #TsunamiCiro – pela primeira vez na campanha, suas hashtags lideram o ranking da semana no Twitter.

Haddad, por sua vez, aumentou o volume dos ataques a Bolsonaro, o que agradou seus seguidores. Se tuíte de maior relevância sobre o debate na Globo foi quando disse que “Bolsonaro aprovou todas as pautas do Governo Temer.” O tom é bem diferente do que predominava até dia 4, período em que entre seus tuítes de maior ressonância estavam um
ataque leve ao candidato do PSL e um “papo cabeça” com o linguista e ativista americano Noam Chomsky.

Em 4º lugar no ranking de R&V do Twitter na semana, a chapa do PSOL, Guilherme Boulos-Sonia Guajajara​, impulsionada especialmente pelas críticas dele a Bolsonaro e seus seguidores e uma defesa enfática da democracia durante o debate da Globo. Em 5º lugar, João Amoêdo-Christian Lohbauer, ​do Novo, impulsionados por ataques ao PT e pela campanha para que o candidato a presidente pudesse participar do debate, o que não aconteceu.

Surpresa na semana, a subida do candidato do Bolsonaro, ​no Twitter, impulsionado por um vídeo dele dizendo “Glória a Deus” em frente a um arco-íris, que obteve 1,62 milhões de visualizações e lhe garantiu o 6º lugar – com visibilidade bem superior à de Marina Silva e Geraldo Alckmin.

Nesta semana, a pesquisa da AJA analisou 4,481,49​6 interações​ entre 1,875,018 usuários no ecossistema das eleições no Twitter. Os mapas de relevância e visibilidade​ e de influência e afinidade​ dos pré-candidatos revela os erros, acertos e os caminhos que podem ser feitos para ganhar relevância na rede. A versão interativa dos mapas está disponível para assinantes.

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BOLSONARO-MOURÃO

A postagem de mensagens e imagens do hospital garantiram bons resultados à comunicação de Bolsonaro pelas redes sociais, que foi reforçada pelo espaço que ganhou nas mídias tradicionais depois do ataque sofrido por ele no dia 6 de setembro. As imagens e vídeos do hospital, enquanto Bolsonaro se recuperava deram a ele picos de engajamento no Facebook e alta no acumulado do mês.

Um dos exemplos dos resultados está em um vídeo dele, do dia 16 de setembro, o primeiro depois do atentado, e que obteve 7,6 milhões de visualizações. Depois, disso, o engajamento caiu e não mais voltou a ter picos significativos em setembro. No Twitter, a relevância de Bolsonaro (o general não tem perfil no Twitter) caiu em relação ao que ele tinha no fim de agosto, apesar do alto volume de curtidas e retuítes de seus tuítes originais. A sua comunicação teve baixas taxas de eficiência e de sensibilização.

A queda de R&V e as baixas taxas sugerem a possibilidade de que o candidato está concentrando sua comunicação entre seus seguidores, sem alcançar usuários fora de sua órbita. Seria, segundo as métricas da pesquisa, resultado de uma estratégia da campanha, que vem combinando apoio de fiéis seguidores com impulsionamento por robôs e “cabos eleitorais” digitais para impulsionar tuítes e hashtags do candidato do PSL. Nas duas redes sociais analisadas, setembro foi um período em que a campanha se dedicou a mostrar um lado “paz e amor” de Bolsonaro. Os ataques a adversários ficaram por conta de apoiadores.

CIRO-KÁTIA

Depois de patinar no começo da campanha, a comunicação da chapa do PDT parece ter acertado o tom a partir da terceira semana de setembro, quando sua fatia de R&V no Twitter e o engajamento no Facebook cresceram efetivamente. Ataques com mira calculada de Ciro a Bolsonaro no Facebook e no Twitter foram os que mais contribuíram para aumentar engajamento e R&V da chapa. Ele também soube explorar as fragilidades expostas pelo filho e pelo vice de Bolsonaro. No Facebook, um de seus posts de maior engajamento foi uma crítica à tortura, no dia 27, explorando uma postagem de um dos filhos de Bolsonaro. Também reforçaram a trajetória ascendente, postagens de apoio ao movimento das mulheres contra o candidato do PSL, no dia 29. Usou nesse processo, a técnica de crossmedia, divulgando a mensagem nos diferentes formatos de comunicação.

Passou a explorar a tese do voto útil contra Bolsonaro já no comecinho de outubro e impulsionou sua R&V no Twitter – um dos meios mais instantâneos de informar e disseminar mensagens: “Se o Brasil continuar dividido, a crise só vai aumentar. Tá na hora de unir o país. As pesquisas mostram que ganho com folga tanto do Bolsonaro quanto do PT no 2º turno. Pra chegar lá, preciso do seu voto já no próximo domingo. Não vote contra ninguém. Vote a favor do Brasil. https://t.co/7kRqg4jzxO. Chegou em ascensão ao debate na TV e conseguiu superar o adversário mais próximo por uma vaga no 2º turno. Não se pode prever, porém, qual o efeito da relevância nas redes sociais sobre o voto.

HADDAD-MANUELA

Diferentemente da chapa Ciro-Kátia, o engajamento e relevância de Haddad-Manuela no Facebook e no Twitter, em setembro, cresceu no começo, depois da confirmação dele como candidato do PT. A entrevista de Haddad ao Jornal Nacional, no dia 15, foi a postagem de maior engajamento dele no Facebook no mês. Depois disso, caiu e teve leve reação na última semana de setembro, mas não mais alcançou os níveis anteriores. No acumulado do mês, porém, o engajamento com Haddad no Facebook superou o de Ciro. No Twitter, a chapa termina o mês com uma fatia de R&V pouco acima do que tinha no começo. O desempenho foi resultado, especialmente, da eficiência de comunicação de Manuela, sempre engajada com a agenda da realidade.

Manuela teve relevância superior à dele no período de 28 de setembro a 5 de outubro, apesar de sua exposição na mídia tradicional espontânea ter sido bem inferior. Nesse período, os tuítes dela de maior relevância foram na defesa de temas que figuraram na comunicação dela durante toda a campanha. Num deles, Manuela expôs a um dos pontos fracos da campanha do PSL, ao criticar a destruição de uma placa de rua com o nome da vereadora Marielle Franco. O segundo tuíte dela que mais impulsionou a fatia de R&V da chapa do PT foi um ataque direto a Bolsonaro, mostrando respostas que ele deu em entrevistas na TV no começo da campanha oficial.

BOULOS-GUAJAJARA

O candidato do PSL teve baixo engajamento no Facebook em setembro, acima de outros nanicos mais conhecidos – como Álvaro Dias (Podemos) – mas abaixo daqueles com mais recursos para impulsionar postagens, como João Amoêdo. Boulos manteve a coerência de posições desde o começo da campanha, denunciando a morte de Manuelle, criticando a prisão de Lula e criticando sua prisão, além de apoio ao movimento #elenão desde o começo. No mês, seu post de maior engajamento no Facebook foi sobre o aumento da rejeição das mulheres a Bolsonaro.

No Twitter, denunciou que um dos três homens que quebraram a placa de rua com nome de Marielle Franco usava camiseta de Bolsonaro – sem citar o nome dele, um dos recursos mais populares entre aqueles que buscam diminuir a relevância de Bolsonaro nas
redes. Só com este tuíte, Boulos conseguiu ter três vezes mais ressonância do que toda a
atividade de Alckmin na semana no Twitter. ​Sua relevância cresceu com um tuíte sobre
sua participação no último debate antes do primeiro turno, em que defendeu a democracia
e condenou a tortura.

AMOÊDO-CHRISTIAN

O impulsionamento de postagens e hashtags para obter apoio que permitisse sua
participação nos últimos debates da TV contribuiu para o crescimento dele nas redes
no mês. Ainda assim, ele teve forte perda de engajamento no Facebook e de sua fatia de
R&V no Twitter. Na busca de apoio entre os eleitores antipetistas, atacou o PT, o que ajudou a impulsionar suas postagens no Facebook e no Twitter. Entre seus tuítes de maior ressonância, um duro ataque ao ex-presidente Lula, que lhe garantiu uma relevância equivalente a 1⁄3 daquela obtida por Haddad na semana de 38 de setembro a 5 de outubro.

MARINA-EDUARDO JORGE

A chapa da Rede teve desempenho discreto nas redes em toda a campanha, sempre
liderado pela candidata a presidente. Em setembro, Marina conseguiu destaque ao se engajar na campanha #elenão, especialmente por ser a única mulher candidata. No Facebook, sua postagem de maior engajamento foi no dia 22 de setembro, quando comunicou que estava entrando com um pedido de investigação contra Bolsonaro no TSE em decorrência do ataque cibernético sofrido pela página MulheresUnidasContraBolsonaro. No acumulado do mês, porém, o engajamento obtido por ela no Facebook só foi superior ao de Alckmin, comparado ao de todos candidatos mais bem situados nas pesquisas de intenção de voto.

No Twitter, a chapa termina o mês com uma fatia de R&V de apenas 3,4%, praticamente igual à que tinha na primeira semana de setembro. O seu melhor desempenho foi registrado na semana de expansão do movimento #elenão, entre 14 e 21 de setembro, que culminou com os protestos de mulheres brasileiras em todo país no fim da semana seguinte.

ALCKMIN-ANA AMÉLIA

A chapa do PSDB viu seu engajamento no Facebook e relevância no Twitter diminuir no
mês. Alckmin teve pior desempenho até que Amoêdo no Facebook. No Twitter, tentou ainda, na última semana, atrair o voto útil contra Bolsonaro e contra o PT, mas não obteve
ressonância.

DEMAIS CANDIDATOS

O desempenho das demais chapas foiinsignificante, com exceção da liderada pelo
Cabo Daciolo.

 

MAPEAMENTOS DA REDE

Colhemos ​ 4,481,49​6 interações​ entre 1,875,018 usuários​ no Twitter nesta semana para investigar a visibilidade dos principais pré-candidatos à próxima eleição presidencial no Brasil. Na noite do último debate do primeiro turno, analisamos dados de 1.413.329 interações entre 610.063 usuários.

Em seguida, filtramos os dados descobrir onde estão interações mais relevantes para em seguida mapear o comportamento do usuário-eleitor: como interage com o conteúdo publicado pelos candidatos, o que compartilha, como se organiza e como participa nas redes sociais com suas opiniões, hashtags e memes.

O resultado do nosso mapeamento, além das análises aqui apresentadas, é apresentado em forma de duas cartografias que representam visibilidade, relevância e afinidade​.
A primeira cartografia​ abaixo ​é feita de pontos que podem ser um tuíte, um usuário, uma imagem ou uma hashtag (veja a legenda). Já tamanho de cada ponto é proporcional à visibilidade ​e à relevância que lhe é aferido. As linhas mostram os fluxos de mensagens e conexões entre usuários​.

Em seguida, a segunda cartografia​ tem a mesma estrutura da primeira, porém com uma diferença: as cores indicam comunidades​. No caso das eleições, cada cor delimita uma zona de influência​ de um candidato, indicando quais usuários ou mensagens estão em maior afinidade​ com ele. Deste modo, podemos visualizar a variação do crescimento das zonas informacionais de cada um dos candidatos e o fluxo de informações entre as diferentes esferas de influência.

Ao final de cada mês, apresentamos gráficos da performance no Facebook dos candidatos.
Esta visualização de dados possui uma versão interativa​, disponível para todos  os navegadores e sistemas operacionais e que permite explorar a nuvem de usuários​, com
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