O debilitante calendário de debates ainda vai longe- fruto da irracionalidade dos candidatos, partidos e marqueteiros. Ao final do segundo debate, na RedeTV!, ficou a clara sensação de que não há espaço para essa overdose de agenda de confrontos. É tudo mais do mesmo, uma chatice sem fim. Entre media trainings e colas na mão – recurso do limitado Bolsonaro, que não consegue gravar três palavras-chave -, percebe-se a incapacidade da mídia on e offline de promover um debate de ideias, repetindo o esgotamento e repetição das últimas campanhas. Agravado pela falta de figuras políticas de peso.
Reveja debates antigos e veja quem fez a diferença? Não se sabe, ainda, qual será a postura da TV Gazeta/Estadão, mas a julgar pelo histórico conservador dos veículos, não se surpreenda que, sem Lula ou Haddad, a dupla de candidatos Debi e Lóide resolva propor um ritual de exorcismo contra a ameaça vermelha ou queimar a bandeira do PT. Sem esquecer, claro, do candidato da Lava Jato e da toxina botulínica, o paranaense Álvaro Dias – ele deve esperar ardentemente que Moro e Dallagnol deem as caras em seu programa eleitoral -, que na RedeTV! chamou de “encenação” a candidatura do PT. Sabe de nada, Álvaro Dias.
Alguém realmente espera que Alckmin, Ciro, Bolsonaro, Dias, Marina, Boulos, Daciolo e Meirelles tragam algo de novo para o próximo debate, dia 9 de setembro, na TV Gazeta/Estadão? No primeiro, o destaque foi a Ursal. No segundo, Marina, normalmente apagada, teve seu momento holofote ao perder a paciência com o misógino Bolsonaro, que acha normal mulher ganhar menos que homem. O “enfrentamento” da dupla Debi e Lóide foi tão ridícula que virou meme, com Ciro e Boulos, ao fundo do palco, quase se contorcendo de rir. Em todos, a ausência do líder nas pesquisas – com Supremo, com Itamaraty, com tudo – não só empobreceu os debates, como os tornou quiméricos. Ausentes, Lula e seu sucessor já conhecido em caso de impedimento eleitoral, Fernando Haddad, puderam ser esbofeteados sem direito de defesa. Covardia patrocinada por gente como Bolsonaro e Dias, que já tem seus lugares reservados no rodapé da história, mas também por Mitre, Boechat, Vacek e Casoy.
A ascensão de Haddad como o “candidato de Lula” não tarda e ele herdará, em uma transfusão eleitoral que promete ser rápida, boa parte dos votos de Lula, ao lado da vice já escolhida, a deputada Manuela D´Ávila, do PCdoB. O PT, por estratégia, vai esticar a corda ao máximo. Haddad já trabalha, porém, com estrutura de campanha mínima, incluindo assessoria, segurança e fotógrafo oficial.
É só uma questão de tempo. Em algum debate – talvez no último, na Globo -, ele entrará. E estará no segundo turno, não tenha dúvida. Curioso que, quatro anos de Operação Lava Jato, unindo mercado, mídia e todo o Judiciário, capazes de derrubar Dilma Rousseff, não conseguiram tirar Lula da disputa de 2018. Mesmo preso. Ainda que incorporado em outro nome. Como escreveu Ricardo Kotscho, chega a ser patético o desfecho do golpe de 2016, com Michel Temer escondido no Jaburu para não atrapalhar – Alckmin e Meirelles querem distância do Conde -, e candidatos governistas não competitivos tendo que ver um defensor da ditadura liderando as pesquisas.
Em tempo – Depois de mandar às favas o Comitê de Direitos Humanos da ONU pelo direito de Lula à candidatura, mesmo preso, o governo Temer e seu Itamaraty tucano, que desconsiderou um tratado e um pacto internacionais, como se tornou usual aqui com a Constituição e com os códigos penais, está mais perdido do que cego em tiroteio diante da situação em Roraima, depois que acampamentos de imigrantes venezuelanos foram atacados na cidade de Pacaraima, na fronteira do estado com a Venezuela. Michel Temer, o presidente anti-Midas, recebeu neste domingo, 19, “ministros” – Padilha, Moreira, Jungmann, Silva e Luna, Etchegoyen, e quem mais restou – para decidir o que fazer. O governo de Roraima defende o fechamento temporário da fronteira entre os dois países. Ninguém falou da campanha sistemática do Itamaraty de Temer contra Nicolás Maduro e a demonização de seu governo bolivariano, ajudando a expulsar o pais do Mercosul e da Organização dos Estados Americanos (OEA).
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