Não entendo do tema drogas. Nada. Mas vejo diariamente nas ruas esse problema que atormenta milhares de famílias, milhões pessoas.
São jovens, velhos, mulheres, homens, brancos, negros, gordos, magros. E até crianças. Todos vítimas, escravos de exploração em busca de moedas, gorjetas, centavos, esmolas que possam sustentar o vício.
Não sei se há leis que autorizem à polícia simplesmente recolher alguém visivelmente drogado. Nem se isto seria eficaz. Vemos em todo momento notícias sobre o combate ao tráfico. Sobre apreensão de todos os tipos de drogas. É enorme e variado, criativo e sofisticado o repertório existente para abastecer viciados de toda parte e de todas as classes sociais.
Não fui buscar teses acadêmicas ou pareceres científicos para entender o problema. Somente me deparei com a realidade e a transformei em fotografias.
Há constantemente discussões e debates incessantes de especialistas no assunto, doutores na questão. Imagino não ser ação legal ou lícita leva-los se não estiverem perturbando a ordem. Ou se há nas cidades e nos governos serviços e programas voltados especificamente para acolhê-los, socorrê-los. Há estatísticas que apontam as drogas como causa de incontáveis mortes. E crimes.
Não estou, na verdade, dizendo algo que ninguém não saiba. É um problema que não se resume a Brasília, ao Brasil. Não se restringe às grandes cidades. Está também nas pequenas vilas. Estende-se a todo o mundo. Seja em pequenas cidades ou grandes metrópoles.
Alguém já disse, aliás, que este será o século da proliferação do uso de entorpecentes. Vemos, por exemplo, diariamente confronto da polícia com moradores das chamadas cracolândias de várias cidades.
Conhecedor do poder que uma fotografia tem para contribuir com a solução de problemas, passei a dirigir minha câmara para o tema.
Não saí em busca de situações e personagens. Não foi preciso. Elas simplesmente surgiram à minha frente, no percurso que faço diariamente em direção ao meu trabalho, da janela do automóvel. Impressionante. Todas as cenas aconteceram à minha frente, ou do meu lado. Transitando pelas ruas, olhando os jardins, os sinais de trânsito.
E olha que colhi essa sequência de imagens em dez ou doze dias. Tive, porém, a preocupação em proteger a identidade de cada um dos homens e mulheres, buscando não revelar o rosto de cada um.
Jamais esqueço e sempre repito o que me disse certa vez um amigo acostumado a tombos e levantadas da vida, escritor da Academia Brasileira de Letras: um fotógrafo, antes de tudo, precisa ter olhar humanista. O produto do seu olhar deve contribuir para melhorar o mundo
Fotógrafo que sou, tomei como padrão esse conceito. Me deparo diariamente com um sem fim de acontecimentos, cenas e situações, personagens os mais díspares e de diversas áreas e grandeza que bem cabem dentro da premissa. Não somente no cenário do poder, repleto de nomes importantes, mas também nas ruas e cafundós. Fico atento a cada um deles, relembrando as palavras do meu velho amigo.
Portanto, onde quer que eu vá, levo minha câmara fotográfica e ando por aí prestando atenção no mundo. Meu ofício me leva aos cantos do Brasil e de outros países. Não deixo meus olhos perderem tempo.
Sempre preocupou-me, ao transitar pela região central de Brasília, o grande número de pessoas drogadas. Isto, viciadas em principalmente crack. Perambulam, perdidas, dementes, jogadas, caídas, sem rumo.
Fotografias não têm culpa. Elas são instrumento para aproximar as pessoas das questões que que afligem a sociedade. Enfim, é minha contribuição para ajudar melhorar o mundo com o olhar humanista a que se refere meu amigo escritor da Academia.
Orlando Brito